quarta-feira, 2 de novembro de 2016

O QUE TODO PRESBITERIANO PRECISA SABER SOBRE: SACRAMENTOS

Introdução

Se alguém o perguntasse quais são os dois meios ou instrumentos utilizados, fora a Palavra e oração, para o seu crescimento espiritual, qual seria sua resposta? Alguns poderiam dizer que ouvir alguns louvores seria um dos meios de crescimento, e outros poderiam dizer que evangelismo pessoal também ajudaria. E entenda bem, não estou dizendo que isso não nos ajude, mas a cada dia surge um modismo novo que substitui aquilo que a própria Escritura estabelece como um “culto racional” para algo do “coração”, esquecendo-se das bênçãos que Deus concede na coletividade da igreja. 

No entanto, a Escritura estabelece como meio de crescimento espiritual, principalmente no coletivo, os sacramentos. E nós só rejeitamos os sacramentos como meio de crescimento porque são pouco falados em nossos círculos, salvo nos momentos específicos. Só conseguiremos entender que os sacramentos são os meios ordenados por Deus para o crescimento sadio da igreja, quando entendermos os seus significados. 

E infelizmente isso não acontece com muitos cristãos de nossas igrejas. Eles entendem o evangelho e sua dependência de Cristo para a salvação, mas ainda não compreendem o que isso tem a ver com a igreja local. Noutras palavras, eles não entenderam que Cristo deu dois sacramentos à igreja para marcar tanto a inicialização na vida cristã quanto para a comunhão contínua com Cristo. 

Definição

Para muitas pessoas que não conhecem as convicções presbiterianas sobre os sacramentos,  torna-se difícil aceitar a definição dos mesmos. No entanto, além de não entender as nossas convicções, ao ouvir a palavra “sacramento” eles já ligam isso à Igreja Católica Romana, a qual possui não apenas dois sacramentos, mas, sete: batismo, ceia, confirmação, penitência, o matrimônio, a ordenanças e a extrema unção. Segundo a Escritura, as ações pastorais não são sacramentos, por duas razões. Primeiro, os sacramentos no Novo Testamento foram estabelecidos diretamente pelo Senhor Jesus (Mt 28.19-20; 1Co 11.23ss). Em segundo lugar, esses sacramentos representam diretamente Cristo e seus benefícios, apontando para a sua morte, sepultamento e ressurreição. Como definem os nossos Símbolos de Fé: 

Os sacramentos são santos sinais e selos do pacto da graça, imediatamente instituídos por Deus para representar a Cristo e os seus benefícios e confirmar os nossos interesses nele bem como fazer uma diferença visível entre os que pertencem à igreja e o resto do mundo, e solenemente obrigá-los ao serviço de Deus em Cristo, segundo a sua Palavra (CFW 27.1);


Um sacramento é uma santa ordenança, instituída por Cristo, na qual, por sinais sensíveis, Cristo e as bênçãos do novo pacto são representados, selados e aplicados aos crentes (BC 92);
Um sacramento é uma santa ordenança instituída por Cristo em sua Igreja, para significar, selar e conferir àqueles que estão no pacto da graça benefícios da mediação de Cristo; para os fortalecer e lhes aumentar a fé e todas as demais graças, e os obrigar à obediência; para testemunhar e nutrir o seu amor e comunhão uns para com os outros, e para distingui-los dos que estão de fora (CM 162)

Na Escritura, “sinal” é como se fosse as placas de uma rodovia que apontam para algo real. Assim são os sacramentos, eles apontam para Cristo como aquele que é o salvador de nossas almas. O sacramento também tem a função de selar a promessa de Deus. O “selo” do sacramento é como se fosse os selos das cartas que são entregues em nossas casas. Ele possui a função de atestar o pagamento e entrega, sem este selo a carta não é entregue. Você pode pensar também em “selos de aprovação”, como o ISO. ISO é uma organização internacional de padronização que certifica a qualidade e indica a excelência do produto. Do mesmo modo, os sacramentos selam as promessas de Deus, dando-nos a garantia de que tais promessas são confiáveis. 

Os sacramentos também possuem outra função, como mostra o Catecismo Maior de Westminster: de “distingui-los dos que estão fora” (C.M.W. 162). Ou seja, os sacramentos possuem a função de mostrar que a Igreja é diferente do mundo, como se fosse uma camiseta de um time; que, ao olharmos o escudo e suas cores, já identificamos a equipe. 

Portanto, a Igreja de Cristo não é dirigida somente pela pregação da Palavra. Mas, a Igreja de Cristo é guiada também pelos sinais sacramentais por Ele ordenados. 

A instituição dos Sacramentos 

Vimos anteriormente que para a Igreja Católica Romana existem mais cinco sacramentos além do Batismo e da Ceia do Senhor. No entanto, vimos também que a Bíblia é clara em mostrar que Cristo ordenou a todos os salvos o Batismo e Santa Ceia. 

Portanto, para entendermos a diferença da posição bíblica para a católica romana quanto aos sacramentos, precisamos olhar para o Antigo Testamento antes de adentrar no Novo Testamento. 

A) Antigo Testamento 

Os sacramentos do Velho Testamento, quanto às coisas espirituais por eles significados e representados, eram em substância os mesmos que do Novo Testamento (CFW 27.5).

Infelizmente, boa parte da igreja brasileira entende que não há nenhuma continuidade entre a Antiga Aliança e a Nova Aliança. No entanto, como vimos na declaração da CFW, tanto os sacramentos do Antigo Testamento quanto os do Novo Testamento possuem a mesma função, ambos apontando para Cristo. 

A circuncisão 

Em Gênesis 17.7 vemos Deus prometendo a Abraão que estabeleceria um pacto com ele e seus descendentes “como pacto perpétuo, para te ser por Deus a ti e à tua descendência depois de ti” (Gn 17.7). Esse pacto não envolveria somente Abraão, mas todos quantos estivessem debaixo do seu teto, mostrando que Deus não nos trata como indivíduos isolados, mas, como família (1Co 7.14), mesmo que nem todos fossem salvos. 

A circuncisão também servia como rito de inicialização, na Igreja do Antigo Testamento, daqueles que professavam fazer parte do povo de Deus. No entanto, aqueles que não eram circuncidados deveriam ser expulsos do povo de Deus, pois violaram o pacto (Gn 17.14).

A Páscoa 

Aqueles que eram circuncidados já podiam participar da mesa do Senhor, a Páscoa. 

Em resposta à recusa de Faraó em deixar o povo ir, Deus enviou pragas. Depois de mostrar as suas maravilhas a Faraó, Deus enviou Moisés a Faraó pedindo que deixasse o Seu povo ir, e novamente Faraó rejeitou. Diante de tal rebeldia, Deus disse que haveria mais uma praga a qual mataria todos os primogenitos da terra do Egito (Êx 12.29), mas os israelitas que exibissem o sangue do cordeiro nos umbrais das portas seriam poupados do julgamento divino, desviando a ira divina. E assim, diante desse julgamento Deus instituiu a Páscoa (Êx 12).

Na páscoa, Deus revela a seu povo as bases da aliança, onde o sangue derramado seria o meio pelo qual o povo seria salvo. No entanto, o sangue que irá ser derramado não era o do pecador, mas de algum substituto. 

As famílias deveriam trazer um “cordeiro sem defeito” ou um cabrito de um ano (Êx 12.5), escolhido no décimo dia do mês, mas imolado somente no décimo quarto dia. Esse cordeiro era assado ao fogo e consumido por inteiro. 

B) Novo Testamento 

No Novo Testamento o Senhor Jesus institui dois sacramentos, como mostra o nossoCatecismo Maior:

Quantos sacramentos instituiu Cristo sob o Novo Testamento?
Sob o Novo Testamento, Cristo instituiu em sua igreja dois sacramentos: O Batismo e a Ceia do Senhor (CM 163). 

O Batismo 

O que é Batismo? 

Batismo é um sacramento do Novo Testamento no qual Cristo ordenou a lavagem com água em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo [...] e por ele os batizandos são solenemente admitidos à igreja visível e entram em um comprometimento público, professando pertencer inteira e unicamente ao Senhor (CM 165).

No Novo Testamento a promessa de Deus não mudou. Pedro deixa claro que Deus promete ser o Deus dos crentes e de suas famílias (At 2.38,39). Na Antiga Aliança, a circuncisão era realizada em todos os homens da casa. No Novo testamento o batismo foi aplicado em todos quantos professam a fé em Jesus Cristo, como também suas famílias. Veja, por exemplo, os casos de Lídia e do Carcereiro de Filipos, Atos 16. Ambos creram e ambos tiveram suas famílias batizadas, mostrando que havia continuidade mudando apenas a forma de administrá-la.

A Ceia do Senhor

O que é a Ceia do Senhor? 

A Ceia do Senhor é o sacramento no qual, dando-se e recebendo-se pão e vinho, conforme a instituição de Cristo, se anuncia a sua morte, e aqueles que participam dignamente tornam-se, não de maneira corporal e carnal, mas pela fé, participantes do seu corpo e do seu sangue, com todas as suas bênçãos para o seu alimento espiritual e crescimento em graça (BC 96).

Da mesma forma em que a administração da circuncisão foi mudada na Nova Aliança, assim também foi com a Páscoa. Ao invés de um cordeiro morto anualmente para lembrarem da libertação feita por Deus em seu povo, Cristo se oferece de uma vez por todas em nosso lugar (Hb 7.27), não necessitando mais de sangue derramado. E assim, antes de sua morte, o Senhor Jesus instituiu a Ceia com seus discípulos mostrando que o pão simbolizaria Sua carne rasgada, e o vinho o seu sangue derramado (Mt 26.26-29; Mc 14.18-25).

Portanto, assim como o batismo em nome do Deus Triúno marca a nossa união com Deus e a membresia em sua família, assim também a Ceia do Senhor marca a nossa união com Cristo.

E qual a continuidade entre eles? 


Afirmei anteriormente, que, os sacramentos da Antiga Aliança tiveram a sua continuidade na Nova Aliança, mudando apenas a forma de serem administrados. Mas, será que é isso mesmo?

  • Tanto a circuncisão quanto o batismo são ritos de inicialização e de pública profissão de fé; 
  • Tanto a circuncisão quanto o batismo são sinais externos que simbolizam o que fora feito internamente.  Por exemplo, no Antigo Testamento veremos passagens que falam sobre coração circuncidados (cf. Dt 10.16; 30.6; Jr 4.4). E na Nova Aliança vemos passagens que falam sobre nós termos sido sepultados juntamente com Cristo, sepultando nosso velho homem (cf. Rm 6.4; Cl 2.12). Ambos os termos simbolizam a nossa união com Cristo, arrependimento e novo nascimento;
  • Tanto a circuncisão como o batismo necessitavam de fé por aquele que aceitava (cf. Rm 4.11; Mc 16.16); 
  • E, tanto a circuncisão como o batismo devem ser administrados nos filhos de crentes (Gn 17; Atos 2.28,29; 16.14-33); 
  • Tanto a Páscoa como a Ceia do Senhor são nosso alimento (Êx 12; 1Co 11.20-27);
  • Tanto a Páscoa como a Ceia do Senhor representam a nossa libertação pela obra soberana de Deus (Êx 12; 1Co 5.7); 
  • Tanto a Páscoa como a Ceia do Senhor apontam para a nossa comunhão com Cristo e com os nossos irmãos (Êx 12; 1Co 10.17). 

Aspersão e a Presença Real

Se existe certa dificuldade, entre o povo evangélico, em compreender a posição sobre os sacramentos quanto ao batismo infantil, tanto mais na aplicação do Batismo e a relação de Cristo com a Ceia. 

Alguns alegam que a palavra “batismo”, em seu sentido original, significa imergir, pois o batismo, segundo eles, representa a morte e ressurreição de Cristo. No entanto, se o batismo representa a morte e ressurreição, logo teremos dois sacramentos iguais. 

Não obstante, entendemos que o Batismo simboliza aquilo que o Espírito Santo fez em nós: o lavar regenerador (Tito 3.5). E se o batismo representa o que o Espírito Santo fez em nós, logo, nós não mergulhamos no Espírito, mas ele vem sobre nós (cf. At 2.1-3). E esse é o testemunho bíblico. Vemos em Atos quase três mil pessoas sendo batizadas (provavelmente dentro do cenáculo – At 2), Cornélio e sua família sendo batizados dentro de casa (At 10), o Carcereiro e sua família sendo batizados na prisão (At 16.31-33) e Paulo sendo batizado e como diz o texto “levantou-se e foi batizado). Portanto, cremos que todas essas passagens são provas para o batismo por aspersão. 

Agora, se o batismo por aspersão é de difícil compreensão, é porque ainda não chegamos na Ceia do Senhor...

Na época da Reforma Protestante, um dos maiores debates que houve não foi sobre a salvação, mas sobre a Ceia do Senhor. Havia quatro posições: Luterana, Zwingliana, Calvinista e Católica. Tanto a Luterana, a Zwingliana como a Calvinista discordavam da posição católica, que é a transubstanciação (onde a eucaristia e o cálice se transformam no corpo e no sangue de Cristo). Para os Luteranos, como diz o Livro de Culto, “na Ceia do Senhor, Jesus está presente em, com e sob os elementos do pão e do vinho”. Ou seja, para os Luteranos o pão e o vinho não se transformam, mas contém o corpo e o sangue. Para os Zwinglianos a Ceia do Senhor é simplesmente um memorial. E para os Calvinistas, Cristo está presente espiritualmente na Ceia do Senhor, como mostra o Catecismo de Heidelberg:

78. Pão e vinho, então, se transformam no próprio corpo e sangue de Cristo?
R. Não. Neste ponto há igualdade entre o batismo e a ceia. A água do batismo não se transforma no sangue de Cristo, nem tira os pecados. Ela é somente um sinal divino e uma garantia disto. Igualmente o pão da santa ceia não se transforma no próprio corpo de Cristo, mesmo que seja chamado "corpo de Cristo", conforme a natureza e o uso dos sacramentos.
79. Por que, então, Cristo chama o pão "seu corpo" e o cálice "seu sangue" ou "a nova aliança em seu sangue", e por que Paulo fala sobre "a comunhão do corpo e do sangue de Cristo"?
R. É por motivo muito sério que Cristo fala assim. Ele nos quer ensinar que seu corpo crucificado e seu sangue derramado são o verdadeiro alimento e bebida de nossas almas para a vida eterna, assim como pão e vinho mantêm a vida temporária. E, ainda mais, Ele nos quer assegurar por estes visíveis sinais e garantias, primeiro: que participamos de seu corpo e sangue, pela obra do Espírito Santo, tão realmente como recebemos com nossa própria boca estes santos sinais, em memória dEle; e segundo: que todo o seu sofrimento e obediência são nossos, tão certo, como se nós mesmos tivéssemos sofrido e pago por nossos pecados (P/R 79)

Assim como o pão e o vinho nos alimentam fisicamente, da mesma forma a Ceia nos alimenta espiritualmente, pois o próprio Cristo disse: Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida (Jo 6.55). Pela obra do Espirito Santo nós somos participantes do Seu corpo por meio desses sinais visíveis. No entanto, não somente de Cristo somos participantes, mas do Seu Corpo mostrando que a nossa comunhão com Cristo é refletida na comunhão da igreja, como mostra o próprio apóstolo: Porventura o cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão (1Co 10.16,17).

E, por fim, assim como temos a certeza de nos alimentarmos espiritualmente do corpo e do sangue de Cristo, a Ceia nos mostra que a justiça de Cristo nos foi imputada e, sempre que vemos pão sendo partido diante de nós, é uma representação da carne partida e do sangue derramado do Filho de Deus em nosso lugar, onde, se tomamos o cálice da comunhão é porque Cristo tomou o cálice da ira em nosso lugar.

Qual o propósito dos sacramentos?

No início, perguntei qual são os meios, fora a leitura da Bíblia e Oração, que utilizamos para o nosso crescimento espiritual, e aqui está a resposta de como os sacramentos nos ajudam. 

A) Representam Cristo e seus benefícios

Na igreja antiga, os sacramentos eram intitulados como “Palavras visíveis”, os quais representavam a verdade do Evangelho. E, assim sendo, os sacramentos transmitem a nós a verdade de Cristo e da salvação adquirida na cruz. 

B) Confirmam nosso interesse por Cristo

O batismo não é um passaporte para o céu ou algo que nos proteja espiritualmente. Mas, ele marca a nossa submissão a Cristo, ingressando, interagindo e servindo à igreja. Na Ceia do Senhor nós somos lembrados de que fomos comprados por Cristo, sendo Ele Senhor de nossas vidas e que firmou uma aliança conosco garantindo a nossa permanência nEle. 

Portanto, quando temos os sacramentos como meios de graça, nós somos lembrados de que pertencemos a Cristo, porque fomos salvos exclusivamente por Ele. E, que a cada dia, o nosso interesse por Cristo aumente, fazendo com que nos dediquemos cada vez mais em seu serviço. 
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Autor: Denis Monteiro
Revisão: Malvina Oliveira
Fonte: Bereianos

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