domingo, 17 de dezembro de 2017

DIA DO PASTOR PRESBITERIANO

Neste dia a Igreja Presbiteriana do Jenipapo parabeniza a todos os pastores presbiterianos do Brasil pelo seu merecido dia. Deus seja louvado pela vida de Seus ministros servindo por todo o Brasil.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

DEZEMBRO CHEGOU!!!

E DEZEMBRO CHEGOU!!!! E veio rápido, na verdade o ano passou rápido.
O que nos lembra Dezembro? Fim de ano, festas, luzes, reunião de família?
Para o mundo é o mês do bom velhinho, para o povo de Deus é a celebração pela bendita vinda do Messias prometido. Troca de presentes no mundo, entre o povo de Deus a graça de ter recebido o melhor dos presentes: a salvação graciosa trazida pelo Rei da Glória.
Reflita sobre a importância dessa data como um momento singular na sua vida.
Não há tempo nem ocasião específica para presentear, pode-se fazê-la a qualquer momento.
Contudo, o Deus encarnado veio na pessoa de Cristo Jesus na plenitude dos tempos para cumprir com louvor a vontade do Pai. Natal não é presente, não são luzes piscantes, não é o velho Noel. Natal é Cristo nascendo em nós a cada dia, vivendo em nós, portanto: regozijemo-nos e exultemos Nele. CRISTO EM NÓS, A ESPERANÇA DA GLÓRIA.
Miss. Rildo Ribeiro.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

80 ANOS DA IPB LAGARTO

Foi bênção louvar ao nosso Deus pelos 80 anos da Igreja Presbiteriana de Lagarto. A SAF/Jenipapo participou louvando ao Melhor Amigo, participações do Coral da Igreja 12 de Agosto/Aracaju e pregando a Palavra de Deus o Pr. Emanuel Menezes presidente do Presbitério Sul de Sergipe.




sexta-feira, 17 de novembro de 2017

DEPARTAMENTAL DA SAF

Hoje dia 15 tivemos mais uma Reunião Departamental da SAF. Parabéns às nossas queridas auxiliadoras, que com afinco trabalham na obra do SENHOR.




quarta-feira, 15 de novembro de 2017

AS LÁGRIMAS DE CUNHAÚ

Por: Frans Leonard Schalkwijk*
No ano 2000, os jornais noticiaram a beatificação dos mártires de Cunhaú(1645), no Rio Grande do Norte, pelo Papa João Paulo II. A matança ocorreu durante as primeiras semanas do levante português contra a ocupação flamenga(1630-1654). Uma das reportagens afirmou que essas horrendas barbaridades foram cometidas por ordem do governo holandês no Recife e com a cooperação de um pastor “calvinista”. Sem querer diminuir a monstruosidade do trágico acontecimento, convém lembrar pelo menos três fatos do contexto histórico daqueles dias de guerra que marcaram o começo do fim da ocupação holandesa do Nordeste.
Em primeiro lugar, observamos que não foi o governo holandês que ordenou a chacina, mas ela foi uma vingança por parte dos indígenas em reação às notícias que corriam sobre as crueldades dos portugueses, ajudados por uma tribo selvagem da Bahia. Desde o início da revolta (13/6/1645), cada vez ficava mais claro que, onde os portugueses restabeleciam seu domínio, estava reservada aos índios em especial uma morte terrível. Consequentemente os “brasilianos” (como os holandeses chamaram os índios tupis) se refugiaram perto das fortificações holandesas, consideradas inexpugnáveis. Outros decidiram evitar o desastre aparentemente inevitável e pegaram em armas. Foi isto o que aconteceu em Cunhaú, no Rio Grande do Norte.
Na terra potiguar, a população indígena consistia em grande parte de índios antropófagos (tapuias), sob a liderança do seu cacique Nhanduí. Para os holandeses, os tapuias significavam um bando de aliados meio inconstantes, pois era um povo muito independente, que não aceitava ordens de ninguém, mas decidia por si o que era melhor para sua tribo. Muito amigo da tribo era um certo Jacob Rabe, casado com uma índia; ele servia como elo entre os tapuias e o governo holandês.
Entre os indígenas do extremo Nordeste, havia em geral grande ódio contra os portugueses, sem dúvida pela lembrança de acontecimentos anteriores à chegada dos holandeses, que eram considerados os libertadores da opressão lusa. Várias vezes esses índios quiseram se aproveitar da situação dos lusos como vencidos, para vingar-se deles. Assim, em 1637, depois de Maurício de Nassau conquistar o Ceará, os índios procuraram matar todos os portugueses da região, que então foram protegidos mediante as armas pelos holandeses. A mesma coisa aconteceu no Rio Grande em 1645. Os tapuias sentiram que, com o início da revolta, havia chegado a hora da verdade: eram eles ou os portugueses. E, no dia 15 de julho, começaram por Cunhaú, massacrando as pessoas que estavam na capela e, posteriormente, numa luta armada, o restante.
Em segundo lugar, de fato o nome de um pastor protestante está ligado a esse episódio. Porém, de modo exatamente contrário àquele que se supõe, porquanto não foi ele quem orientou a chacina, mas foi enviado pelo governo para refrear a selvageria dos bugres. Quando, no dia 25 de julho, o governo holandês no Recife soube dos terríveis acontecimentos no Rio Grande do Norte, despachou o Rev. Jodocus à Stetten, pastor da Igreja Cristã Reformada e capelão do exército, junto com o capitão Willem Lamberts e sua tropa armada, “para refrear os tapuias e trazê-los para (o Recife) a fim de poupar o país e os moradores (portugueses)”. Os índios, porém, ficaram enfurecidos com os holandeses, não entendendo como estes podiam defender seus inimigos mortais, e até romperam a frágil aliança com os batavos. Antes de regressar para o sertão do Rio Grande, fizeram ainda outra incursão vingadora contra os portugueses, desta vez na Paraíba.
Em terceiro lugar, notamos o fim dos tapuias e de Jacob Rabe. Alguns meses depois da matança em Cunhaú, esse funcionário da Companhia das Índias Ocidentais, que havia recebido o mensageiro governamental, pastor Jodocus, a mão armada, foi morto por ordem do próprio governador da capitania do Rio Grande do Norte, Joris Garstman. O capitão Joris era casado com uma senhora portuguesa que tinha perdido muitos parentes em Cunhaú. Quanto aos tapuias, depois da expulsão dos holandeses e da restauração do domínio português, os que não quiseram submeter-se à orientação político-religiosa de Lisboa foram massacrados, como diz o Dr. Tarcísio Medeiros, na “mais sangrenta guerra de exterminação que existiu por este Brasil”. Puro genocídio.
Esses três fatos complementares não diminuem em nada o sofrimento de Cunhaú, dessas vidas inocentes esmagadas entre os rolos compressores do moinho da luta armada. Porém, talvez possam eliminar um pouco do veneno da história, por nos permitirem entender melhor o contexto daqueles dias cheios de angústia para ambos os lados. Escrever história objetivamente é muito difícil, ainda mais quando se trata de um caso controvertido como este, com muitos pormenores desconhecidos. Porém, afirmar, como foi feito por certos porta-vozes, que as barbaridades de Cunhaú foram perpetradas a mando do próprio governo holandês, e ainda por cima orientadas por um pastor evangélico, simplesmente não corresponde à verdade. Convém distinguir os fatos da interpretação dos fatos. Isso não atenua, antes aumenta a nossa ansiosa expectativa do dia em que o Senhor enxugará todas as lágrimas, inclusive as de Cunhaú (Ap 7.17).
*O autor é ministro da Igreja Reformada da Holanda e ex-missionário no Brasil. É um estudioso da presença holandesa no nordeste brasileiro, tendo escrito o livro Igreja e Estado no Brasil Holandês.O presente texto foi publicado originalmente na revista Ultimato (maio-junho 2000).
FIDES REFORMATA XV, Nº 2 (2010): 109-111

POEMA DA REFORMA PROTESTANTE

Poema da Reforma Protestante

Eis um período nebuloso, de apostasia e densas trevas,
Assim foi o século dezesseis com o monopólio da religião,
Quando o clero dominante impunham suas próprias regras,
Suplantavam as Escrituras enganando a multidão.
Ávidos, sedentos pelo poder fizeram aliança política,
Juncados no mesmo desejo numa manifestação carnal,
A Igreja de Roma se envaideceu numa eclesiologia lúbrica,
Com a anuência do Estado num projeto colossal.
Mas, em trinta e um de Outubro de mil quinhentos e dezessete,
Eis que surge um atalaia em Nome do Senhor dos Exércitos,
Conhecido como Martinho Lutero; mas soou como voz celeste.
Desafiando os ouvintes à mensagem bíblica, e não aos clérigos.
Ele pagou um alto preço por sustentar suas teses e convicções, E na Igreja de Wittenberg deu-se início à Reforma Protestante,
Não foi sem vilipêndios e hostis ataques em que pregou seus sermões,
Pois sua árdua missão pode ser comparado a Davi e ao gigante.
Lutero não foi o único a desbravar ardil império,
Outrora, John Huss e Wycliffe aludiram a essência do Evangelho,
Prenunciando urgente reforma, mesmo diante de tal vitupério,
Foram obedientes e fiéis à voz do Maravilhoso Conselheiro.
Outros foram os atalaias com afinco na Missão ulterior,
Calvino na Suíça, John Knox na Escócia, todos a serviço do General,
Sistematizando a doutrina e liturgia do culto, para glória de Nosso Senhor,
Com erudição e saber do Espírito Santo, se abstendo de toda forma do mal.
Em tal proeza surgiu, o presbiterianismo em seus primórdios,
Radicados somente na graça de Deus, revelado nas Escrituras,
Mediante a fé em Cristo, isento de ensinamentos espúrios.
Para a glória de Deus, e o bem de gerações futuras.
Esse evento histórico completa seus quinhentos anos,
Como divisor d’águas, no contexto do cristianismo;
Foi além de um manifesto, foi genuíno e cristão de austeros ânimos,
Fiel à Palavra e distinto no ensino, sem dar margem ao ecumenismo.
É preciso resgatar com perspicácia, a mensagem de avivamento,
Pois muitos são os que comemoram essa data tão esplêndida,
Como se fossem apologetas da verdade, e de tal portento.
Faz mister destilar o joio do trigo dessa era repentina.
Vamos todos sem tardança, abraçar a Causa Nobre,
O pendão do Evangelho proclamar em sua essência,
Expedir um Manifesto à luz das Escrituras, tanto a ricos quanto a pobres,
Pois o Dia se aproxima! Ai daquelas igrejas ou de crentes em sua indiferença.

- Rev. Sidnei dos Santos

terça-feira, 7 de novembro de 2017

UM FILME HISTÓRICO PARA O POVO DE DEUS

Hoje às 19:00hs na Igreja Presbiteriana do Jenipapo, passaremos o filme sobre a Reforma Protestante do séc. XVI. Venha aprender sobre o movimento que mudou os rumos da Igreja.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

FELIZ DIA DA REFORMA!

Estou vendo alguns posts sobre o Dia da Reforma e decidi tomar um tempinho para escrever alguns de meus pensamentos.

Todos nós sabemos que a escolha da data de 31 de Outubro de 1517 é (como a maioria das datas na história) arbitrária. É claro, você pode identificar 7 de Dezembro de 1941 com o Pearl Harbor porque foi um evento específico, mas (ainda assim) muitas coisas contribuíram para que ele acontecesse naquele dia. A data que escolhemos para o início da Reforma é ainda mais subjetiva. Isso porque era necessário muitos e muitos fatores para que a Reforma pudesse acontecer, e esses fatores tiveram raízes nos séculos que precederam as ações de Lutero.

Duvido, ainda mais, que Lutero colocaria algum peso sobre essa data em específico. Bem, é claro que ele veria alguma relevância sobre o desafio que havia lançado, mas não mais do que em qualquer um dos outros eventos de sua vida. Ele não tinha intenção alguma de criar uma rebelião contra Roma por suas ações, ele estava apenas fazendo o que a maioria dos professores na Europa faziam naqueles dias: convidando uma escola rival a uma versão escolástica de um jogo moderno de futebol. Em sua mente ele estava seguindo os passos de outros homens piedosos da igreja, e, nesse exato momento, ele ainda não havia reconhecido as questões epistemológicas básicas que ele haveria de ser forçado a encarar em apenas uma questão de anos.

Mas é certo sim marcar o início da Reforma (ainda que façamos isso de forma arbitrária). Poderíamos ter voltado até Wycliffe, ou ter escolhido 6 de Julho de 1415 e a morte de João Huss (pois sua morte teve muita importância). Poderíamos ter ido até a divisão entre Zuínglio e Roma ou a Dieta de Worms e o “Aqui permaneço, não posso fazer outra coisa”. Em todo caso, parece adequado marcar o evento (ao menos para uma pequena minoria).

Para a maior parte do Romanismo e Protestantismo, a Reforma é um evento histórico sem qualquer significado duradouro. Para muitos, na verdade é um trágico evento, um erro, digno de arrependimento de seus adeptos e de repúdio pelos outros. Mas para a maioria é apenas uma nota de rodapé na história e, dada sua teologia e prática, não possui significado duradouro. Entre esses estão os católicos nominais que provam, por suas vidas, que eles realmente não acreditam na maioria das coisas que Roma ensinou. Mas também estão aqueles que são protestantes por conveniência e não por convicção. Para eles a Reforma claramente não apresenta qualquer razão para se celebrar ou refletir nos dias de hoje. Se alguém não aprecia a liberdade que a justificação garante, não se alegra com a imputação da justiça de Cristo (saiba que muitos dos grandes nomes de hoje da “cristandade não-católica” riem disso) e não abraça e confessa o Sola Scriptura, esse alguém não tem razão alguma para refletir sobre o Dia da Reforma (seria melhor ir comprar doces e se juntar às festividades pagãs).

Mas para aqueles que ainda abraçam aos Solas não por uma fidelidade partidária ao que é “legal”, mas por um reconhecimento do eterno valor que essas verdades representam, o Dia da Reforma é um lembrete anual do que realmente importa nesses dias de “verdades” borradas e transitórias. Então, para aqueles que entendem isso, um feliz Dia da Reforma!

***
Autor: James R. White
Fonte: Página do autor no Facebook 

Tradução e adaptação: Erving Ximendes

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

SEGUNDO DIA DO ANIVERSÁRIO DA IGREJA

Com a graça de Deus, nossa Igreja celebrou seus 33 anos de história no Povoado Jenipapo. Em tudo O SENHOR foi glorificado. Temos muitos desafios pela frente, sabemos disto, e contamos com a segura orientação divina para posseguirmos, sabendo que Aquele que começou a boa obra em nós, é fiel para completá-la. Pregou a Palavra o Seminarista do SETEBASE James Luna. Deus nos falou por meio do Seu servo. Contamos com as orações de todos para continuar.








sábado, 21 de outubro de 2017

33º ANIVERSÁRIO DA CONGREGAÇÃO PRESBITERIANA DO JENIPAPO (1º DIA)

Foi bênção o primeiro dia do nosso aniversário. Tivemos diversas igrejas representadas e moradores do Povoado que gentilmente atenderam nosso convite no evangelismo e participaram conosco. Parabéns a todos. O Rev. Marcos Badia de Riachão do Dantas/SE foi o preletor da noite. A Deus toda gratidão,  aos irmãos de Lagarto pelo gratificante trabalho no Evangelismo, aos irmãos do Povoado Jenipapo pelo trabalho e ao Conselho da IPB Lagarto pelo apoio e incentivo. Deus seja louvado por Sua obra no Povoado Jenipapo.









sexta-feira, 20 de outubro de 2017

PORQUE MEMBRESIA É IMPORTANTE

“Por que se preocupar com a membresia da igreja?”

Já me fizeram essa pergunta antes. Às vezes, ela é feita com uma genuína curiosidade: “Explique-me o que ser membro significa”. Outras vezes, ela é feita com um quê de suspeita: “então, diga-me, mais uma vez, porque eu devo me tornar um membro” – como se fazer parte da igreja colocasse a pessoa automaticamente na lista de dízimos por débito automático.

Para muitos cristãos, membresia soa como algo rígido, algo que você tem em um banco ou em um clube de campo, mas que é formal demais para a igreja. Mesmo quando se aceita que o Cristianismo não é uma religião solitária e que nós precisamos de uma comunidade e de comunhão com outros cristãos, nós, ainda assim, receamos nos tornar oficialmente parte de uma igreja. Para que isso? Por que encaixotar o Espírito Santo em categorias de membro/não membro? Por que se dar ao trabalho de pertencer a uma igreja local quando eu já sou membro da Igreja universal?

Alguns cristãos – por causa da tradição da igreja ou da bagagem que possuem – podem não ser convencidos sobre a membresia, não importa quantas vezes a palavra “membro” apareça no Novo Testamento. Mas muitos outros estão abertos a ouvir sobre algo que eles não conhecem direito.

Aqui vão algumas razões pela qual a membresia importa.

1. Ao fazer parte de uma igreja, você demonstra visivelmente seu compromisso com Cristo e com seu povo

Membresia é uma das formas de se levantar a bandeira da fé. Você assume perante Deus e os outros que você é parte desse corpo local de crentes. É fácil falar em termos quentinhos sobre a igreja invisível – o corpo de crentes que estão perto ou longe, vivos ou mortos –, mas é na igreja visível que Deus espera que você viva a sua fé.

Às vezes eu acho que nós não ficaríamos clamando por viver em comunidade se já tivéssemos realmente experimentado passar por isso. A verdadeira comunhão é algo difícil, pois temos de lidar com pessoas muito parecidas conosco: egoístas, mesquinhas e orgulhosas. Mas é para esse corpo que Deus nos chama.

Quantas cartas Paulo escreveu para apenas uma pessoa? Apenas um punhado, as quais, em sua maioria, foram voltadas para pastores. A maior parte de suas epístolas foram escritas a um corpo local de crentes. Nós vemos a mesma coisa em Apocalipse. Jesus falou com congregações individuais, como a de Esmirna, Sardes e Laodicéia. No Novo Testamento, não há cristãos flutuando na terra do “só eu e Jesus”. Crentes pertencem a igrejas.

2. Fazer um compromisso é uma declaração poderosa, em uma cultura de poucos compromissos

Muitas ligas de boliche exigem mais de seus membros do que a igreja. Onde isso é algo real, então a igreja é um triste reflexo da sua cultura. A nossa cultura consumista faz com que tudo seja feito com o fim de atender as nossas preferências. Quando essas necessidades não são atendidas, nós sempre podemos experimentar um outro produto, trabalho ou esposa.

Juntar-se a uma igreja, nesse tipo de ambiente, é uma afirmação contracultural. É dizer: “estou comprometido com esse grupo de pessoas e eles estão comprometidos comigo. Estou aqui mais para dar do que para receber”.

Mesmo que você vá ficar na cidade por apenas alguns anos, não é uma má ideia participar de uma igreja. Isso faz com que a sua igreja de origem (se você está estudando longe de casa, por exemplo) saiba que você está sendo cuidado e faz com que a sua igreja atual saiba que você quer ser cuidado por ela.

Mas a questão não é apenas sobre ser cuidado, é sobre fazer uma decisão e ser fiel a ela – algo que a minha geração, com a sua variedade de opções, acha difícil. Nós preferimos namorar a igreja – tê-la por perto em eventos especiais, chamá-la para sair quando nos sentimos sozinhos ou mantê-la por perto em dias chuvosos. A membresia é a única forma de parar de namorar igrejas e se casar com uma.

3. Nós podemos ser excessivamente independentes

No ocidente, isso é uma das melhores e piores coisas sobre nós. Nós somos livres e pensadores críticos. Nós temos uma ideia, e corremos em direção a ela. Mas quem está correndo conosco? E será que estamos todos correndo na mesma direção? A membresia afirma formalmente: “eu sou parte de algo maior do que eu. Eu não sou apenas um dentre três mil indivíduos. Eu sou parte de um corpo”.

4. A membresia nos coloca sob supervisão

Quando participamos de uma igreja, estamos nos oferecendo uns aos outros para sermos encorajados, repreendidos, corrigidos e servidos. Estamos nos colocando sob líderes e nos submetendo a sua autoridade (Hebreus 13.7). Estamos dizendo: “Estou aqui para ficar. Eu quero ajudá-lo a crescer em santidade. Você me ajuda a fazer o mesmo?”.

Mark Dever, no livro Nove Marcas de uma Igreja Saudável (Editora Fiel, páginas 12 e 13), escreve:


Identificando-nos com uma igreja particular, permitimos que os pastores e demais membros daquela igreja local saibam que nós pretendemos manter um compromisso na frequência, na oferta, na oração e no serviço. Nós ampliamos as expectativas de outros em relação a nós mesmos nessas áreas, e tornamos claro que estamos sob a responsabilidade desta igreja local. Nós asseguramos a igreja quanto ao nosso compromisso com Cristo ao servir com eles, e pedimos o compromisso deles quanto a nos servir em amor e nos encorajar em nosso discipulado.

5. Juntar-se à igreja ajudará seu pastor e os seus presbíteros a serem pastores fiéis

Hebreus 13.7 diz: “Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles”. Essa é a sua parte como “leigo”. E essa é a nossa parte como líderes: “pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas”. Como pastor, eu levo muito a sério minha responsabilidade perante Deus de cuidar das almas. Em quase todas as reuniões de presbíteros o Manual de Instruções das Igrejas Reformadas da América –RCA Book of Church Order – nos orienta a “procurar descobrir se qualquer membro da congregação está em necessidade de cuidados especiais em relação a sua condição espiritual e/ou não tem feito o uso adequado dos meios de graça”. Isso já é algo bem difícil de se fazer em uma igreja como a nossa, onde há uma constante rotatividade. Mas é ainda mais difícil quando nós não sabemos quem realmente é parte desse rebanho.

6. Juntar-se à igreja lhe dá a oportunidade de fazer promessas

Quando alguém se torna membro da University Reformed Church, a igreja que eu pastoreio, ele promete orar, ofertar, servir, comparecer aos cultos, aceitar a liderança espiritual da igreja, obedecer aos ensinamentos e procurar as coisas que trazem unidade, pureza e paz. Nós não devemos fazer essas promessas de qualquer jeito. Elas são votos solenes. E nós devemos ajudar uns aos outros a nos mantermos fiéis a elas. Se você não faz parte de uma igreja, você perde a oportunidade de fazer essas promessas publicamente, convidando os presbíteros e o resto do corpo a ajudarem você a se manter firme nessas promessas. Isso fará com que você, seus líderes e toda a igreja percam grande benefícios espirituais.

Membresia é mais importante do que muita gente pensa. Se você realmente quer ser um revolucionário contracultural, aliste-se em uma classe de membresia, encontre-se com seus presbíteros e junte-se a uma igreja local.

***
Autor: Rev. Kevin DeYoung
Fonte: The Gospel Coalition 
Tradução: Victor Bimbato
Via: Reforma 21

MARTINHO LUTERO: LIÇÕES A PARTIR DE SUA VIDA E LABORES (PARTE II)

Por que os pastores devem ouvir Lutero?
Então, Lutero foi um professor universitário de teologia por toda a sua vida profissional. Isso faz com que levantemos a questão de saber se ele realmente pode servir como qualquer tipo de modelo para pastores, ou mesmo entender o que os pastores enfrentam em nosso tipo de ministério. Mas isso seria um erro. Pelo menos três coisas unem Lutero ao nosso chamado.

  1. Ele foi mais um pregador do que qualquer um de nós é pastor.
Lutero conhecia o peso e a pressão da pregação semanal. Havia duas igrejas em Wittenberg, a igreja da cidade e a igreja do castelo. Lutero era um pregador regular na igreja da cidade. Ele disse: “Se eu pudesse me tornar rei ou imperador hoje, não desistiria do meu ofício como pregador” (39). Ele era movido por uma paixão pela exaltação de Deus na Palavra. Em uma de suas orações ele diz: “Querido Senhor Deus, desejo pregar para que tu sejas glorificado. Quero falar sobre ti, louvar-te e exaltar o teu nome. Embora eu provavelmente não consiga fazê-lo bem, tu não podes fazeres com que isso seja bem feito?” (Meuser, 51).
Para sentir a força desse comprometimento, você deve perceber que na igreja de Wittenberg naqueles dias não havia programas, mas apenas adoração e pregação. Domingo, às 5:00 da manhã havia adoração com um sermão baseado em uma epístola; às 10:00 da manhã um sermão com base em um evangelho; à tarde, uma mensagem no Antigo Testamento ou catecismo. Os sermões de segunda e terça-feira eram baseados no catecismo; às quartas-feiras em Mateus; às quintas e sextas-feiras nas cartas apostólicas; e sábado em João (Meuser, 37-38).
Lutero não era o pastor da igreja da cidade. Seu amigo, Johannes Bugenhagen, foi o pastor de 1520 a 1558. Mas Lutero compartilhava a pregação praticamente todas as semanas em que ele estava na cidade. Ele pregava porque os habitantes da cidade queriam ouvi-lo e porque ele e seus contemporâneos entendiam o seu doutorado em teologia como um chamado para ensinar a Palavra de Deus a toda a igreja. Então, Lutero sempre pregava duas vezes no domingo e uma vez durante a semana. Walther von Loewenich disse em sua biografia: “Lutero foi um dos maiores pregadores da história da cristandade… Entre 1510 e 1546, Lutero pregou cerca de 3.000 sermões. Frequentemente ele pregava várias vezes por semana, muitas vezes duas ou mais vezes por dia” (353).
Por exemplo, em 1522 ele pregou 117 sermões em Wittenberg e 137 sermões no ano seguinte. Em 1528, ele pregou quase 200 vezes e, a partir de 1529, temos 121 sermões. Assim, a média desses quatro anos foi um sermão a cada dois dias e meio. Como Fred Meuser diz em seu livro sobre a pregação de Lutero: “Nunca ficou um fim de semana sem pregar — ele sabe tudo sobre isso. Nem mesmo deixou de pregar em um dia de semana. Nunca houve alguma pausa na pregação, ensino, estudo privado, produção, escrita e aconselhamento” (27). Esse é o primeiro vínculo com os nossos pastores. Ele conhece o fardo da pregação.

  1. Como a maioria dos pastores, Lutero era um homem de família, pelo menos desde os 41 anos até a morte, aos 62 anos.
Lutero conheceu a pressão e o sofrimento de ter, criar e perder filhos. Katie deu-lhe seis filhos em rápida sucessão: João (1526), ​​Elisabete (1527), Madalena (1529), Martinho (1531), Paulo (1533) e Margarete (1534). Faça uma pequena análise sobre isso. O ano entre Elizabete e Madalena foi o ano em que ele pregou 200 vezes (mais de uma vez a cada dois dias). Acrescente a isso que Elizabete morreu naquele ano aos oito meses de idade, e ele prosseguiu sob essa dor.
E para que não pensemos que Lutero negligenciava os filhos, considere que nas tardes de domingo, muitas vezes após pregar duas vezes, Lutero liderava as devoções domésticas, que eram praticamente outro culto de adoração durante uma hora, incluindo convidados e os filhos (Meuser, 38). Então, Lutero conhecia as pressões de ser um homem de família público e atarefado.

  1. Lutero era um homem da igreja, não um erudito teológico.
Ele não apenas era parte de quase todas as controvérsias e conferências de seu dia, mas geralmente também era o líder. Houve a Disputa de Heidelberg (1518), o encontro com o Cardeal Cajetan em Augsburg (1518), a Disputa de Leipzig, com John Eck e Andrew Karlstadt (1519), e a Dieta de Augsburg, embora ele não estivesse lá pessoalmente (1513).
Além do envolvimento pessoal e ativo nas conferências da igreja, havia o incrível fluxo de publicações que estão relacionadas à orientação da igreja. Por exemplo, em 1520, ele escreveu 133 obras; em 1522, 130; em 1523, 183 (uma a cada dois dias!), e muitas 1524 (Meuser). Ele era uma espécie de para-raios de todas as críticas contra a Reforma. “Todos se voltam para ele, cercando a sua porta a cada hora, cidadãos, médicos e príncipes. Enigmas diplomáticos deveriam ser resolvidos, pontos teológicos complicados deveriam ser esclarecidos, a ética da vida social precisava ser estabelecida” (Martyn, 473).
Com a ruptura do sistema medieval da vida da igreja, um novo modo de pensar sobre a igreja e a vida cristã precisava ser desenvolvido. E na Alemanha, a tarefa coube, em grande medida, a Martinho Lutero. É surpreendente como ele se dedicou aos assuntos terrenos da vida paroquial. Por exemplo, quando foi decidido que “visitantes” do estado e da universidade seriam enviados para cada paróquia para avaliar a condição da igreja e fazer sugestões para a vida da igreja, Lutero aceitou escrever as diretrizes: “Instruções para visitantes de pastores paroquiais no Eleitorado da Saxônia”. Ele abordou uma ampla gama de questões práticas. Quanto à educação das crianças, ele chegou a determinar como as classes infantis deveriam ser divididas em três grupos: pré-leitores, leitores e leitores avançados. Então ele fez sugestões sobre como ensiná-los.
As crianças devem primeiro aprender a ler a cartilha na qual está o alfabeto, a oração do Senhor, o credo e outras orações. Quando eles o aprenderem, receberão Donatus e Cato, para ler Donatus e expor Cato. O professor precisa expor uma ou duas frases de cada vez, e as crianças devem repeti-las em um momento posterior, para que assim construam um vocabulário (Conrad Bergendoff, editor, Church and Ministry II, vol. 40, Luther’s Works, (Philadelphia: Muhlenberg Press, 1958), 315–316).
Menciono esse fato simplesmente para mostrar que este professor universitário estava intensamente envolvido na tentativa de resolver os problemas de ministério mais práticos, desde o berço até ao túmulo. Ele não estudava em período de lazer ininterrupto de verões sabáticos e longos. Ele era constantemente solicitado e estava constantemente trabalhando.
Então, concluo que embora ele fosse um professor universitário, há razões pelas quais os pastores deveriam olhar para o seu trabalho e ouvir as suas palavras, de modo a aprenderem e se inspirarem para o ministério da Palavra — a “Palavra externa”, o Livro.

Lutero no estudo: a diferença feita pelo Livro
Para Lutero, a importância do estudo estava tão entrelaçada com sua descoberta do verdadeiro evangelho que ele nunca poderia tratar do estudo como qualquer outra coisa que não fosse absolutamente crucial, vital e formadora da história. Para ele, o estudo tinha sido a porta de entrada para o evangelho, para a Reforma e para Deus. Nós presumimos tanto hoje sobre a Palavra que dificilmente podemos imaginar o que custou a Lutero lutar pela verdade e defender o acesso à Palavra. Para Lutero, o estudo é importante. Sua vida e a vida da igreja dependiam disso. Precisamos perguntar se todo o terreno conquistado por Lutero e por outros reformadores pode ser perdido ao longo do tempo se perdermos essa paixão por estudar, ao presumirmos que a verdade permanecerá óbvia e disponível.
Para ver esse entrelaçamento entre o estudo e o evangelho vamos voltar aos primeiros anos em Wittenberg. Lutero data a grande descoberta do evangelho em 1518 durante a sua série de estudos nos Salmos (Dillenberger, xvii). Ele conta a história em seu Preface to the Complete Edition of Luther’s Latin Writings [Prefácio à Edição Completa dos Escritos de Lutero em Latim]. Essa descrição da descoberta é extraída do prefácio escrito em 5 de março de 1545, ano anterior à sua morte. Observe as referências aos seus estudos das Escrituras (em itálico).
Eu realmente fui cativado com um extraordinário ardor por entender Paulo na Epístola aos Romanos. Mas, até então, foi… uma única palavra no Capítulo 1 [.17]: “Porque nele se descobre a justiça de Deus”, que permaneceu em meu caminho. Pois, eu odiei aquela expressão “justiça de Deus”, que, segundo o uso e o costume de todos os professores, fui ensinado a compreender filosoficamente a justiça formal ou ativa, como a chamavam, com a qual Deus é justo e castiga o pecador injusto.
Ainda que como monge eu tinha uma vida irrepreensível, sentia que era um pecador diante de Deus, e tinha uma consciência extremamente perturbada. Não podia crer que Deus era aplacado com as satisfações que eu lhe dava. Eu não amava, mas sim, odiava a justiça de Deus que pune pecadores e, secretamente, se não com blasfêmia, com certeza murmurando muito, estava irado contra Deus e disse: “Como se não bastasse que miseráveis pecadores, eternamente perdidos por causa do pecador original, sejam esmagados por toda espécie de calamidade pelo Decálogo, Deus tivesse de acrescentar dor sobre dor pelo evangelho, e também com o evangelho nos ameaçando com sua justa ira!”. Assim, me irava, com uma consciência furiosa e perturbada. Contudo, persistentemente golpeei aquela passagem de Paulo, desejando ardentemente entender o que ele quis dizer com “a justiça de Deus”.
Por fim, pela misericórdia de Deus, meditando dia e noite, observei o contexto das palavras, a saber: “Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá pela fé”. Ali, comecei a entender que a justiça de Deus é aquela pela qual o justo vive por meio de um dom de Deus, ou seja, pela fé. E este é o significado: a justiça de Deus é revelada pelo evangelho, ou seja, a justiça passiva com a qual [o] Deus misericordioso nos justifica pela fé, como está escrito: “o justo viverá pela fé”. Senti que nasci de novo e entrei no próprio paraíso através de portões abertos. Nessa passagem, uma face totalmente diferente de toda a Escritura se revelou a mim. Então, de memória, percorri as Escrituras…
E considerei a palavra amabilíssima com um amor tão grande quanto o ódio que tinha antes ao odiar a expressão “justiça de Deus”. Assim, essa passagem em Paulo foi para mim verdadeiramente o portão do paraíso (Dillenberger, 11).
Observe como Deus estava trazendo Lutero para a luz do evangelho da justificação. Todas as seguintes seis frases revelam a intensidade do estudo e da luta com o texto bíblico:
  • Eu realmente fui cativado com um extraordinário ardor por entender Paulo na Epístola aos Romanos.
  • Segundo o uso e o costume de todos os professores, fui ensinado a compreender filosoficamente (Uma abordagem ao estudo da qual ele estava sendo liberto).
  • Persistentemente golpeei aquela passagem de Paulo, desejando ardentemente entender o que ele quis dizer.
  • Por fim, pela misericórdia de Deus, meditando dia e noite, observei o contexto das palavras.
  • Então, de memória, percorri as Escrituras.
  • Essa passagem em Paulo foi para mim verdadeiramente o portão do paraíso.
As sementes de todos os hábitos de estudo de Lutero estão aqui ou são claramente implícitas. O que, então, distinguia o homem Lutero no estudo?

  1. Lutero elevou o próprio texto bíblico acima de todos os comentaristas ou pais da igreja.
Esta não foi a conclusão feita a partir da preguiça. Melancthon, amigo e colega de Lutero em Wittenberg, disse que Lutero conhecia tão bem a sua dogmática nos primeiros dias que ele poderia citar todas as páginas de Gabriel Biel (o texto padrão da Dogmática, publicado 1488) de cor (Oberman, 138). Isso não era falta de interesse pelos pais e filósofos; era uma paixão primordial pela superioridade do próprio texto bíblico.
Ele escreveu em 1533: “Por vários anos, tenho agora lido anualmente a Bíblia duas vezes. Se a Bíblia fosse uma árvore grande e poderosa e todas as suas palavras fossem pequenos ramos, tenho tocado em todos os ramos, desejoso de saber o que havia ali e o que cada ramo tinha para oferecer” (Plass, 83). Oberman diz que Lutero manteve essa prática por no mínimo dez anos (173). A Bíblia passou a significar mais para Lutero do que todos os pais e comentaristas.
“Aquele que conhece bem o texto da Escritura”, disse Lutero em 1538, “é um teólogo distinto. Pois, uma passagem ou texto bíblico tem mais valor do que os comentários de quatro autores” (Plass, 1355). Em sua Carta Aberta à Nobreza Cristã, Lutero explicou a sua preocupação:
Os escritos de todos os santos pais devem ser lidos apenas por um período, para que possamos ser conduzidos às Sagradas Escrituras. Conforme ocorre, no entanto, nós os lemos apenas para sermos absorvidos neles e nunca chegamos às Escrituras. Somos como homens que estudam essas placas sinalizadoras e nunca viajam pela estrada. Os queridos pais, por meio de seus escritos, desejavam que fôssemos levados às Escrituras, mas nós os usamos para sermos afastados das Escrituras, embora somente as Escrituras sejam nossa vinha onde devemos trabalhar e nos esforçar (Kerr, 13).
A Bíblia é a vinha do pastor, onde ele deve trabalhar e se esforçar. Mas, Lutero se queixou em 1539: “A Bíblia está sendo enterrada pela abundância dos comentários, e o texto está sendo negligenciado, embora em cada ramo de aprendizagem os melhores são aqueles que conhecem o texto” (Plass, 97). Para Lutero, isso não é uma mera pureza e fidelidade às fontes. Este é o testemunho de um homem que encontrou a vida na fonte da montanha, não no córrego secundário no vale. Para Lutero, era uma questão de vida e morte se alguém estudava o texto da própria Escritura ou passava a maior parte do tempo lendo comentários e literatura secundária. Lembrando dos primeiros dias de seu estudo das Escrituras, ele disse:
Quando eu era jovem, lia a Bíblia repetidamente, e era tão familiarizado com ela, que, em um instante, eu conseguiria apontar para qualquer versículo que fosse mencionado. Depois, li os comentaristas, mas logo os deixei, pois encontrei neles coisas que minha consciência não poderia aprovar, por serem contrárias ao texto sagrado. É sempre melhor ver com os próprios olhos do que com os de outras pessoas (Kerr, 16).
Lutero não quis dizer que não há lugar para ler outros livros. Afinal, ele escreveu livros. Mas ele nos aconselha a torná-los secundários e considerar poucos deles. Para mim, como um leitor lento, acho esse conselho muito encorajador. Ele diz:
Um aluno que não deseja que seu esforço seja desperdiçado, deve ler e reler um bom escritor de modo que o autor se integre, por assim dizer, em sua carne e sangue. Pois, uma grande variedade de leitura confunde e não ensina. Isso torna o aluno semelhante a um homem que mora em todos os lugares e, portanto, em nenhum lugar específico. Assim como não desfrutamos diariamente da comunhão com todos os nossos amigos, mas apenas de alguns amigos especiais, assim também deve ser em nossos estudos (Plass, 112).
A quantidade de livros teológicos deve… ser reduzida, e deve ser feita uma seleção do melhor deles; pois muitos livros e muitas leituras não tornam os homens muito sábios. Mas ler algo bom e ler com frequência, por pouco que seja, é a prática que torna os homens sábios nas Escrituras e que também os torna piedosos (113).

  1. Este foco radical no texto da própria Escritura, com a literatura secundária em um lugar secundário, conduz Lutero a uma luta intensa e séria com as próprias palavras de Paulo e outros escritores bíblicos.
Em vez de voltar-se aos comentários e aos pais, ele diz: “persistentemente golpeei aquela passagem de Paulo, desejando ardentemente entender o que ele quis dizer. Esta não foi uma ocorrência isolada.
Ele disse aos seus alunos que o exegeta deveria tratar uma passagem difícil de modo semelhante a como Moisés fez com a rocha no deserto, ferindo-a com sua vara até que jorrasse água para as pessoas sedentas (Oberman, 224). Em outras palavras, golpeie o texto. “Persistentemente golpeei aquela passagem de Paulo”. Há um grande incentivo nesta luta com o texto: “A Bíblia é uma fonte impressionante: quanto mais alguém tira água dela e a bebe, mais a sede é estimulada” (Plass, 67).
No verão e no outono de 1526, Lutero assumiu o desafio de expor Eclesiastes ao pequeno grupo de estudantes que permaneceu em Wittenberg durante a praga. “Salomão, o pregador”, ele escreveu a um amigo, “está me dando trabalho, como se ele aborrecesse alguém que leia sobre ele. Mas ele deve se render” (Heinrich Bornkamm, trans. by E. Theodore Bachmann, Luther in Mid-Career, 1521–1530, (Philadelphia: Fortress Press, 1983, orig. 1979), 564.).
O estudo era isso para Lutero — tomar um texto como Jacó tomou o anjo do Senhor e dizer: “Ele deve se render. EU IREI ouvir e conhecer a Palavra de Deus neste texto para a minha alma e para a igreja!”. Foi assim que ele entendeu o significado de “justiça de Deus” na justificação. E foi assim que ele rompeu com a tradição e com a filosofia repetidas vezes.

  1. O poder e a preciosidade do que Lutero viu quando golpeou persistentemente a linguagem de Paulo o convenceu para sempre de que a leitura do grego e do hebraico era um dos maiores privilégios e responsabilidades do pregador reformado.
Novamente, o motivo e a convicção aqui não são compromissos acadêmicos para a erudição de alto nível, mas compromissos espirituais para proclamar e preservar um evangelho puro.
Lutero falou contra mil anos de trevas da igreja sem a Palavra, quando afirmou com ousadia: “Certamente, a menos que as línguas permaneçam, o evangelho finalmente perecerá” (Kerr, 17). Ele pergunta: “Você pergunta qual é a utilidade de aprender as línguas? Você diz: ‘Podemos muito bem ler a Bíblia em alemão?’”. E ele responde:
Sem as línguas não teríamos recebido o evangelho. As línguas são a bainha que contém a espada do Espírito; são a caixa que contém as inestimáveis ​​joias do pensamento antigo; são o vaso que contém o vinho; e como o evangelho diz, são os cestos nos quais os pães e os peixes são guardados para alimentar a multidão.
Se negligenciarmos a literatura, acabaremos por perder o evangelho… Assim que os homens cessaram de cultivar as línguas, a Cristandade declinou, até que caiu sob o domínio incontestável do papa. Mas, logo que essa tocha reacendeu, aquela coruja papal fugiu com um grito em uma escuridão congenial. Em tempos passados, os pais se equivocaram frequentemente, porque ignoraram as línguas e, em nossos dias, há quem, como os valdenses, não pense que as línguas têm qualquer utilidade; mas, embora a sua doutrina seja boa, muitas vezes erram quanto ao verdadeiro significado do texto sagrado; eles estão sem armas contra erros, e temo muito que a sua fé não permanecerá pura (Martyn, 474).
A principal questão era a preservação e a pureza da fé. Onde as línguas não são apreciadas e buscadas, o cuidado na observação bíblica e no pensamento bíblico e a preocupação com a verdade diminuem. Isso porque as ferramentas para pensar de outra forma não são presentes. Esta era uma possibilidade intensamente real para Lutero porque ele sabia disso. Ele disse,
Se as línguas não me deixassem confiante quanto ao verdadeiro significado da Palavra, eu ainda poderia continuar sendo um monge agrilhoado, empenhado em pregar silenciosamente os erros romanistas na obscuridade de um claustro; o papa, os sofistas e o império anticristão teriam permanecido inabaláveis (Martyn, 474).
Em outras palavras, ele atribui o avanço da Reforma ao poder penetrante das línguas originais. O grande evento linguístico do tempo de Lutero foi a aparição do Novo Testamento grego editado por Desidério Erasmo. Assim que essa versão em grego apareceu em meio ao verão de 1516, Lutero a obteve e começou a estuda-la e usa-la em suas aulas sobre Romanos 9. Ele fez isso apesar de Erasmo ser um adversário teológico. Ter as línguas originais era um tesouro para Lutero; se fosse o caso, ele teria ido à escola com o próprio Diabo para aprendê-las.
Ele estava convencido de que haveriam muitos obstáculos no estudo sem a ajuda das línguas originais. “Santo Agostinho”, ele disse, “é obrigado a confessar, quando escreve em De Doctrina Christiana, que um professor cristão que deve expor as Escrituras também precisa das línguas grega e hebraica, além do latim; caso contrário, é impossível para ele não enfrentar obstáculos em toda parte” (Plass, 95).
E ele estava persuadido de que conhecer as línguas traria frescor e força à pregação. Ele disse:
Embora a fé e o evangelho possam ser proclamados por pregadores simples sem as línguas originais, tal pregação é superficial e fraca; os homens, no mínimo, se tornam enfadados e aborrecidos, e esta pregação acaba caindo por terra. Mas, quando o pregador é versado nas línguas, seu discurso tem frescor e força, toda a Escritura é considerada, e a fé é constantemente renovada por uma variedade contínua de palavras (Kerr, 148).
Agora, essa é uma afirmação desencorajadora para muitos pastores que negligenciaram o grego e o hebraico. O que eu diria é que conhecer as línguas originais pode fazer de qualquer pregador dedicado um pregador melhor — mais vigoroso, mais fiel, mais confiante e mais incisivo. Porém, é possível pregar fielmente sem elas — pelo menos por um tempo. A prova da nossa fidelidade à Palavra, se temos negligenciado as línguas, é a seguinte: temos um grande interesse que a igreja de Cristo promova a sua preservação, ensino e uso generalizados nas igrejas? Ou nós, por autoproteção, minimizamos a sua importância porque agir de outra forma seria ruim? Suspeito que, para muitos de nós hoje, as palavras fortes de Lutero sobre nossa negligência e indiferença são precisas quando ele diz:
É um pecado e uma vergonha não conhecer nosso próprio livro ou não entender o discurso e as palavras de nosso Deus; é um pecado e uma perda ainda maiores que não estudamos as línguas originais, especialmente nestes dias, quando Deus está concedendo e nos dando homens, livros e todas as facilidades e incentivos para este estudo, e deseja que a Bíblia seja um livro aberto. Ah, quão felizes os queridos pais teriam se tivessem a oportunidade de estudar as línguas e chegarem assim preparados para as Sagradas Escrituras! Que grande labor e esforço custou-lhes reunir algumas migalhas, enquanto nós, com metade do trabalho — sim, quase sem trabalho algum — podemos obter todo o pão! Ah, como o esforço deles envergonha a nossa indolência (Meuser, 43).
Essa referência à “indolência” nos leva à próxima característica de Lutero no estudo.
Por: John Piper. © Desiring God Foundation.Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: Martin Luther: Lessons from His Life and Labor.
Original: Martinho Lutero: lições a partir de sua vida e labores. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Camila Rebeca Teixeira. Revisão: William Teixeira.
John PiperJohn Piper é doutor em Teologia pela Universidade de Munique e fundador do desiringGod.org e chanceler no Bethlehem College & Seminary. Ele serviu por 33 anos como pastor principal da Bethlehem Baptist Church em Minneapolis, Minnesota. Piper é autor de diversos livros, incluindo Uma Glória Peculiar (Fiel) e Em busca de Deus (Shedd).

MARTINHO LUTERO: LIÇÕES A PARTIR DE SUA VIDA E LABORES

(Conferência Bethlehem para Pastores 1996)
Uma das grandes redescobertas da Reforma — especialmente de Martinho Lutero — foi que a Palavra de Deus vem até nós sob a forma de um livro. Em outras palavras, Lutero compreendeu este fato poderoso: Deus preserva a experiência de salvação e santidade de geração em geração por meio de um livro de revelação, não por um bispo em Roma, e não pelos êxtases de Thomas Müntzer e pelos profetas de Zwickau. A Palavra de Deus vem até nós em um Livro. Essa redescoberta moldou Lutero e a Reforma.
Um dos principais oponentes de Lutero na Igreja Romana, Sylvester Prierias, escreveu em resposta às suas 95 teses:
Aquele que não aceita a doutrina da Igreja de Roma e do pontífice de Roma como uma regra de fé infalível, a partir da qual as Sagradas Escrituras também têm a sua força e autoridade, é um herege.
Em outras palavras, a Igreja e o papa são o depósito autoritativo da salvação e da Palavra de Deus; e o Livro é derivado e secundário. “O que há de novo em Lutero”, diz Heiko Oberman, “é a noção de obediência absoluta às Escrituras contra qualquer autoridade; sejam elas papas ou concílios” (193). Em outras palavras, a salvífica, santificadora e autoritativa Palavra de Deus vem até nós em um livro. As implicações desta simples observação são enormes.
Lutero descobre o Livro
Em 1539, ao comentar o Salmo 119, Lutero escreveu: “Neste salmo, Davi sempre diz que irá falar, pensar, falar, ouvir, ler — de dia e de noite, constantemente — nada além da Palavra e dos mandamentos de Deus. Porque Deus deseja dar-lhe o seu Espírito somente através da Palavra externa” (1359). Esta frase é extremamente importante. A “Palavra externa” é o Livro. E o Espírito salvífico, santificador e iluminador de Deus, ele diz, vem até nós através desta “Palavra externa”.
Lutero o chama de “Palavra externa” para enfatizar que é objetiva, fixa, fora de nós e, portanto, imutável. É um livro. Nem a hierarquia eclesiástica nem o êxtase fanático podem substituí-la ou moldá-la. É “externa”, como Deus. Você pode se apossar dela ou rejeitá-la. Mas você não pode torná-la diferente do que é. É um livro com letras, palavras e frases fixas.
E Lutero disse com grande força em 1545, o ano anterior à sua morte: “O homem que deseja ouvir Deus falar, leia a Sagrada Escritura” (62). Antes, ele havia dito em seus sermões em Gênesis: “O próprio Espírito Santo e Deus, o Criador de todas as coisas, é o Autor deste Livro” (62).
Batalha com o Livro
Uma das implicações do fato de que a Palavra de Deus vem até nós em um livro é que o tema desta conferência é “The Pastor and His Study” [O Pastor e Seu Estudo], não “O pastor e sua sessão espiritual”, ou “O pastor e sua intuição” ou “O pastor e seu multi-perspectivalismo religioso”. A Palavra de Deus que salva e santifica, de geração em geração, está preservada em um Livro. E, portanto, no centro do trabalho de cada pastor está o trabalho com esse livro. Chame-o de leitura, meditação, reflexão, cogitação, estudo, exegese ou do que quiser — uma parte grande e central do nosso trabalho é batalhar pelo significado de Deus em um livro e proclamá-lo no poder do Espírito Santo.
Lutero sabia que alguns tropeçariam no puro conservadorismo desse fato simples e imutável. A Palavra de Deus está fixada em um Livro. Ele sabia então, como sabemos hoje, que muitos dizem que essa afirmação anula ou minimiza o papel crucial do Espírito Santo em conceder vida e luz. Lutero, eu penso, diz: “Sim, isso pode acontecer”. Alguém pode argumentar que enfatizar o brilho do sol anula o cirurgião que remove a cegueira. Porém a maioria das pessoas não concordaria com isso. Certamente Lutero não concordaria.
Ele disse em 1520: “Estejam certos de que ninguém senão o Espírito Santo, desde o céu, torna alguém um doutor nas Escrituras Sagradas” (1355). Lutero era um grande amante do Espírito Santo. E a sua exaltação do livro como “Palavra externa” não depreciava o Espírito. Pelo contrário, elevava o grande dom do Espírito à cristandade. Em 1533, ele disse: “A Palavra de Deus é o maior, mais necessário e mais importante objeto na cristandade” (913). Sem a “palavra externa”, não discerniríamos um espírito do outro, e a personalidade objetiva do próprio Espírito Santo se perderia na obscuridade de expressões subjetivas. Estimar o Livro implicava a Lutero que o Espírito Santo é uma Pessoa bela a ser conhecida e amada, e não um barulho a ser sentido.
A Palavra encarnada
Outra objeção à ênfase de Lutero no livro é que a Palavra escrita minimizaria a Palavra encarnada, o próprio Jesus Cristo. Lutero diz que o contrário é verdade. Na medida em que a Palavra de Deus é desconectada da objetiva “Palavra externa”, a Palavra encarnada, o Jesus histórico, torna-se um nariz de cera moldado segundo as preferências de cada geração. Lutero tinha uma arma com a qual buscava livrar a Palavra encarnada de ser vendida nos mercados de Wittenberg. Ele expulsou os cambistas — os vendedores de indulgências — com o chicote da “Palavra externa”, o livro.
Quando ele afixou as 95 teses em 31 de outubro de 1517, a tese de número 45 dizia: “Os cristãos deveriam ser ensinados que aquele que vê um necessitado, mas desvia o seu olhar dele, e compra uma indulgência, recebe não a remissão do papa, mas a ira de Deus” (Oberman, 77). Esse golpe veio do Livro — da história do bom samaritano e do segundo grande mandamento no livro — a “Palavra externa”. E sem o Livro, não haveria golpe algum. E o Verbo encarnado seria o brinquedo de barro de todos. Então, precisamente por causa do Verbo encarnado, Lutero exalta a Palavra escrita, a “Palavra externa”.
É verdade que a igreja precisa ver o Senhor em suas conversas terrenas e caminhando sobre a terra. Nossa fé está enraizada nessa revelação decisiva na história. Mas Lutero reafirmou que essa visão acontece através de um registro escrito. O Verbo encarnado é revelado a nós em um Livro. Não é impressionante que o Espírito nos dias de Lutero, e em nossos dias, era e é praticamente silencioso sobre o Senhor encarnado — exceto quando magnifica a glória de Deus através do registro escrito sobre o Verbo encarnado?
Nem a igreja Romana nem os profetas carismáticos alegaram que o Espírito do Senhor lhes narrou eventos incontáveis ​​sobre o Jesus histórico. Isso é surpreendente. De todas as reivindicações de autoridade sobre a “Palavra externa” (pelo papa), e ao lado da “Palavra externa” (pelos profetas), nenhuma delas traz novas informações sobre a vida encarnada e o ministério de Jesus. Roma se atreve a acrescentar fatos à vida de Maria (por exemplo, a concepção imaculada, que Pio IX anunciou em 8 de dezembro de 1854), mas não à vida de Jesus. Os profetas carismáticos desejaram anunciar novas ações do Senhor no século XVI, e em nossos dias, mas nenhum parece relatar uma nova parábola ou um novo milagre do Verbo encarnado, omitido nos Evangelhos. Nem a autoridade romana nem o êxtase profético acrescentam ou removem algum registro externo sobre o Verbo encarnado.
Por que o Espírito é tão silencioso quanto ao Verbo encarnado — mesmo entre aqueles que usurpam a autoridade do Livro? A resposta parece ser que agradou a Deus revelar o Verbo encarnado a todas as gerações através de um Livro, especialmente através dos Evangelhos. Lutero disse o seguinte:
Os próprios apóstolos consideraram necessário ter o Novo Testamento em grego e guardá-lo seguramente nessa linguagem, sem dúvida, para preservá-lo de forma segura e sadia como em uma arca sagrada. Pois, eles previram tudo o que ocorreria e que agora passou a acontecer, e sabia que, se estivesse apenas na cabeça de alguém, desordem e confusão grosseiras e terríveis, e muitas diferentes interpretações, fantasias e doutrinas surgiriam na igreja, as quais poderiam ser evitadas e das quais o homem simples poderia ser protegido somente se o Novo Testamento fosse escrito neste idioma. (17)
O ministério interno do Espírito não anula o ministério da “Palavra externa”. Ele não duplica o que foi designado a fazer. O Espírito glorifica o Verbo encarnado dos Evangelhos, mas ele não narra novamente as suas palavras e ações para os analfabetos ou pastores negligentes.
A imensa implicação disso para o ministério pastoral é que nós, pastores, somos essencialmente agentes da Palavra de Deus transmitida em um livro. Somos fundamentalmente leitores, mestres e proclamadores da mensagem do Livro. E tudo isso é para a glória do Verbo encarnado e pelo poder do Espírito que habita no interior. Mas nem o Espírito que habita em nós nem o Verbo encarnado nos afastam do Livro que Lutero chamou de “Palavra externa”. Cristo é manifesto em nossa adoração, em nossa comunhão e em nossa obediência à “Palavra externa”. Aqui é onde vemos a glória de Deus na face de Cristo (2 Coríntios 4.6). Então, é por causa de Cristo que o Espírito se concentra no Livro, onde Cristo é evidente, não nos êxtases, onde ele é obscurecido.
A questão específica que desejo tentar responder a você é: Que diferença essa descoberta do livro fez na maneira como Lutero realizou o seu ministério da Palavra? O que podemos aprender a partir de Lutero ao estudarmos a Palavra? Toda a vida profissional de Lutero foi vivida como professor na Universidade de Wittenberg. Então, será útil traçarmos sua vida até esse ponto e depois perguntarmos por que um professor pode ser um modelo útil para pastores.
O caminho para ser um professor universitário
Lutero nasceu em 10 de novembro de 1483, em Eisleben, filho de um mineiro de cobre. Seu pai queria que ele fosse um advogado. E ele estava a caminho dessa vocação na Universidade. Segundo Heiko Oberman, “dificilmente há informações autenticadas sobre os primeiros dezoito anos que levaram Lutero à Universidade de Erfurt” (102).
Em 1502, aos 19 anos, ele recebeu o diploma de bacharelado, de modo inexpressivo, sendo considerado o número 30 dentre os 57 alunos em sua classe. Em janeiro de 1505, ele recebeu seu mestrado em Erfurt e ficou em segundo lugar entre os 17 candidatos. Naquele verão, a providencial experiência semelhante à de Damasco aconteceu. No dia 2 de julho, no caminho de casa para a faculdade de direito, ele foi surpreendido por uma tempestade e lançado no chão por um raio. Ele gritou: “Ajude-me, santa Ana, e me tornarei um monge” (92). Ele temia por sua alma e não sabia como encontrar segurança no evangelho. Foi assim, que ele acabou indo para o mosteiro.
Quinze dias depois, para desgosto de seu pai, ele manteve o seu voto. Em 17 de julho de 1505, ele bateu no portão dos eremitas agostinianos em Erfurt e pediu ao monge principal para aceitá-lo na ordem. Mais tarde, ele disse que essa escolha foi um pecado flagrante — “sem qualquer valor”, pois foi feita contra seu pai e por medo. Então, ele acrescentou: “Mas quanto bem o Senhor misericordioso permitiu em meu ingresso ao mosteiro!” (116). Vemos esse tipo de providência misericordiosa frequentemente na história da igreja, e isso deve nos proteger dos efeitos paralisantes de decisões ruins em nosso passado. Deus não é impedido em seus propósitos soberanos de nos guiar, como ele fez com Lutero, a partir de erros para uma vida frutífera de alegria.
Ele tinha 21 anos quando se tornou um monge agostiniano. Passar-se-ia mais de vinte anos até se casar com Katharina von Bora, em 13 de junho de 1525. Assim, houve mais vinte anos de luta com as tentações de um homem solteiro que tinha fortes inclinações. Mas “no mosteiro”, disse ele, “não pensava em mulheres, dinheiro ou bens; antes, meu coração tremia e se abalava sobre se Deus concederia a sua graça a mim… Pois, eu me desviei da fé e não podia deixar de imaginar que havia irritado a Deus, a quem eu, por sua vez, precisava apaziguar fazendo boas obras” (128). Não houve discussão teológica nos primeiros estudos de Lutero. Ele disse: “Se eu pudesse crer que Deus não estava irado comigo, me tranquilizaria com alegria” (315).
Na Páscoa, 3 de abril (provavelmente) de 1507, ele foi ordenado para o sacerdócio, e no dia 2 de maio, celebrou a sua primeira missa. Ele estava tão sobrecarregado com o pensamento da majestade de Deus, ele diz, que quase fugiu. O monge principal o persuadiu a continuar. Oberman diz que este incidente não é isolado.
Um senso do “mysterium tremendum” da santidade de Deus foi característico de Lutero ao longo de sua vida. Esse senso impediu a rotina de monge de penetrar em suas relações com Deus e guardou os seus estudos bíblicos, orações ou leitura da missa de degenerar em mero ato mecânico; a sua preocupação principal em tudo isso era o encontro com o Deus vivo (137).
Durante dois anos, Lutero ensinou aspectos da filosofia aos monges mais novos. Ele disse mais tarde que a filosofia do ensino era como esperar pelo objeto real (Oberman, 145). Em 1509, o que era real veio e seu amado superior, conselheiro e amigo, Johannes von Staupitz, permitiu o acesso de Lutero à Bíblia, ou seja, ele permitiu que Lutero ensinasse a Bíblia em vez da filosofia moral — Paulo em vez de Aristóteles. Três anos depois, em 19 de outubro de 1512, aos 28 anos de idade, Lutero recebeu seu doutorado em teologia, e Staupitz lhe concedeu a cadeira de teologia bíblica na Universidade de Wittenberg, que Lutero ocupou por todo o restante de sua vida.
Continua na Parte 2
Por: John Piper. © Desiring God Foundation.Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: Martin Luther: Lessons from His Life and Labor.
Original: Martinho Lutero: lições a partir de sua vida e labores. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Camila Rebeca Teixeira. Revisão: William Teixeira.
John PiperJohn Piper é doutor em Teologia pela Universidade de Munique e fundador do desiringGod.org e chanceler no Bethlehem College & Seminary. Ele serviu por 33 anos como pastor principal da Bethlehem Baptist Church em Minneapolis, Minnesota. Piper é autor de diversos livros, incluindo Uma Glória Peculiar (Fiel) e Em busca de Deus (Shedd).