sábado, 23 de março de 2019

A PERSEGUIÇÃO AOS CRISTÃOS DA MALÁSIA

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Saiba em quais esferas da vida os cristãos mais são pressionados e de que forma as mulheres mais são afetadas após se converterem

 Entenda como se dá a perseguição na Malásia e saiba como orar especificamente por este país
Desde 2014, a situação para cristãos na Malásia está claramente mais difícil. Se uma mulher ou garota se converte ao cristianismo e a família ou comunidade descobre, ela é geralmente ameaçada com violência sexual ou forçada a se casar com um muçulmano. Para muçulmanos, a idade legal mínima para casamento nas leis familiares islâmicas é de 18 anos para homens e 16 para mulheres, mas quem está abaixo dessa idade ainda pode casar se tiver o consentimento de um juiz da sharia (lei islâmica).
Essa lei torna mulheres e crianças convertidas mais vulneráveis, pois caso a fé cristã seja descoberta, elas podem ser forçadas a se casar com um muçulmano. No período de análise da Lista Mundial da Perseguição 2019, de 1 de novembro de 2017 a 31 de outubro de 2018, um caso de uma menina tailandesa de 11 anos, que não era cristã, que casou com um homem malaio de 41 anos causou comoção pública. Isso reforça que casamentos de menores de idade ainda têm números consideráveis, mesmo com as alterações para elevar a idade de casamento para 18 anos – que estão em curso. Ainda assim há previsões especiais na lei que dão liberdade especial para cortes da sharia.
Nos últimos cinco anos a Malásia mostrou uma situação instável. Apesar do nível de pressão na esfera da igreja cair nos últimos períodos de análise da Lista Mundial da Perseguição, o que reflete um aumento na ousadia nas atividades da igreja, os níveis em todas as outras esferas diminuíram desde 2018, porém, continuam mais altos do que em 2015. Isso também reflete no nível médio de pressão. Considerando que a média é próxima da de 2017, depois de atingir um pico em 2018 após o sequestro de cristãos, ela agora está apenas consideravelmente mais alta do que em 2015.
O padrão da perseguição na Lista Mundial da Perseguição 2019 para Malásia mostra que, em termos gerais, a pressão aos cristãos no país diminuiu em todas as esferas da vida, fazendo com que a média de pressão caísse de 12,3, em 2018, para 11,7, em 2019. A pressão é extrema e mais forte na esfera da família e está em um nível muito alto nas de comunidade, vida privada e nação. A pontuação para pressão na esfera nação ultrapassou um pouco a da vida privada, refletindo que em maio de 2018, um governo com menos paranoia ditatorial assumiu. O país ocupa a 42ª posição na Lista este ano.
A pressão nas esferas da família, comunidade e vida privada mostram problemas enfrentados por convertidos do islamismo e outras religiões, conduzido também por uma política de islamização do país. A pressão é resultado da opressão islâmica, presente em todas as esferas. Além disso, partidos e grupos islâmicos conservadores continuam sendo fortes na Malásia. A pontuação para violência contra cristãos reduziu de 3,9, em 2018, para 1,5, em 2019. Além do sequestro de alguns cristãos nos últimos anos, a perseguição raramente é violenta na Malásia. Para entender melhor como é feita a Lista Mundial da Perseguição e as esferas da vida que analisa, conheça a metodologia da lista.
Fonte:Portas Abertas

NOVO PISO DA CONGREGAÇÃO

Deus por sua infinita bondade nos agraciou com a bênção da aquisição do novo piso, já sendo instalado. Seja Deus louvado por Sua graça maravilhosa.







domingo, 10 de março de 2019

A CONFISSÃO DE FÉ DA GUANABARA


No dia 7 de março de 1557 chegou a Guanabara um grupo de huguenotes (calvinistas franceses) com o propósito de ajudar a estabelecer um refúgio para os calvinistas perseguidos na França. Perseguidos também na Guanabara em virtude de sua fé reformada, alguns conseguiram escapar; outros, foram condenados à morte por Villegaignon, foram enforcados e seus corpos atirados de um despenhadeiro, em 1558. Antes de morrer, entretanto, foram obrigados a professar por escrito sua fé, no prazo de doze horas, respondendo uma série de perguntas que lhes foram entregues. Eles assim o fizeram, e escreveram a primeira confissão de fé na América (ver Apêndice 2), sabendo que com ela estavam assinando a própria sentença de morte. [1]
TEXTO DA CONFISSÃO [2]
Segundo a doutrina de S. Pedro Apóstolo, em sua primeira epístola, todos os cristãos devem estar sempre prontos para dar razão da esperança que neles há, e isso com toda a doçura e benignidade, nós abaixo assinados, Senhor de Villegaignon, unanimemente (segundo a medida de graça que o Senhor nos tem concedido) damos razão, a cada ponto, como nos haveis apontado e ordenado, e começando no primeiro artigo:
I. Cremos em um só Deus, imortal, invisível, criador do céu e da terra, e de todas as coisas, tanto visíveis como invisíveis, o qual é distinto em três pessoas: o Pai, o Filho e o Santo Espírito, que não constituem senão uma mesma substância em essência eterna e uma mesma vontade; o Pai, fonte e começo de todo o bem; o Filho, eternamente gerado do Pai, o qual, cumprida a plenitude do tempo, se manifestou em carne ao mundo, sendo concebido do Santo Espírito, nasceu da virgem Maria, feito sob a lei para resgatar os que sob ela estavam, a fim de que recebêssemos a adoção de próprios filhos; o Santo Espírito, procedente do Pai e do Filho, mestre de toda a verdade, falando pela boca dos profetas, sugerindo as coisas que foram ditas por nosso Senhor Jesus Cristo aos apóstolos. Este é o único Consolador em aflição, dando constância e perseverança em todo bem.
Cremos que é mister somente adorar e perfeitamente amar, rogar e invocar a majestade de Deus em fé ou particularmente.
II. Adorando nosso Senhor Jesus Cristo, não separamos uma natureza da outra, confessando as duas naturezas, a saber, divina e humana nele inseparáveis.
III. Cremos, quanto ao Filho de Deus e ao Santo Espírito, o que a Palavra de Deus e a doutrina apostólica, e o símbolo,[3] nos ensinam.
IV. Cremos que nosso Senhor Jesus Cristo virá julgar os vivos e os mortos, em forma visível e humana como subiu ao céu, executando tal juízo na forma em que nos predisse no capítulo vinte e cinco de Mateus, tendo todo o poder de julgar, a Ele dado pelo Pai, sendo homem.
E, quanto ao que dizemos em nossas orações, que o Pai aparecerá enfim na pessoa do Filho, entendemos por isso que o poder do Pai, dado ao Filho, será manifestado no dito juízo, não todavia que queiramos confundir as pessoas, sabendo que elas são realmente distintas uma da outra.
V. Cremos que no santíssimo sacramento da ceia, com as figuras corporais do pão e do vinho, as almas fiéis são realmente e de fato alimentadas com a própria substância do nosso Senhor Jesus, como nossos corpos são alimentados de alimentos, e assim não entendemos dizer que o pão e o vinho sejam transformados ou transubstanciados no seu corpo, porque o pão continua em sua natureza e substância, semelhantemente ao vinho, e não há mudança ou alteração.
Distinguimos todavia este pão e vinho do outro pão que é dedicado ao uso comum, sendo que este nos é um sinal sacramental, sob o qual a verdade é infalivelmente recebida. Ora, esta recepção não se faz senão por meio da fé e nela não convém imaginar nada de carnal, nem preparar os dentes para comer, como santo Agostinho nos ensina, dizendo: “Porque preparas tu os dentes e o ventre? Crê, e tu o comeste.”
O sinal, pois, nem nos dá a verdade, nem a coisa significada; mas Nosso Senhor Jesus Cristo, por seu poder, virtude e bondade, alimenta e preserva nossas almas, e as faz participantes da sua carne, e de seu sangue, e de todos os seus benefícios.
Vejamos a interpretação das palavras de Jesus Cristo: “Este pão é meu corpo.” Tertuliano, no livro quarto contra Marcião, explica estas palavras assim: “este é o sinal e a figura do meu corpo.”
S. Agostinho diz: “O Senhor não evitou dizer: — Este é o meu corpo, quando dava apenas o sinal de seu corpo.”
Portanto (como é ordenado no primeiro cânon do Concílio de Nicéia), neste santo sacramento não devemos imaginar nada de carnal e nem nos distrair no pão e no vinho, que nos são neles propostos por sinais, mas levantar nossos espíritos ao céu para contemplar pela fé o Filho de Deus, nosso Senhor Jesus, sentado à destra de Deus, seu Pai.
Neste sentido podíamos jurar o artigo da Ascensão, com muitas outras sentenças de Santo Agostinho, que omitimos, temendo ser longas.
VI. Cremos que, se fosse necessário pôr água no vinho, os evangelistas e São Paulo não teriam omitido uma coisa de tão grande conseqüência.
E quanto ao que os doutores antigos têm observado (fundamen­tando-se sobre o sangue misturado com água que saiu do lado de Jesus Cristo, desde que tal observância não tem fundamento na Palavra de Deus, visto mesmo que depois da instituição da Santa Ceia isso aconteceu), nós não podemos hoje admitir necessariamente.
VII. Cremos que não há outra consagração senão a que se faz pelo ministro, quando se celebra a ceia, recitando o ministro ao povo, em linguagem conhecida, a instituição desta ceia literalmente, segundo a forma que nosso Senhor Jesus Cristo nos prescreveu, admoestando o povo quanto à morte e paixão do nosso Senhor. E mesmo, como diz santo Agostinho, a consagração é a palavra de fé que é pregada e recebida em fé. Pelo que, segue-se que as palavras secretamente pronunciadas sobre os sinais não podem ser a consagração como aparece da instituição que nosso Senhor Jesus Cristo deixou aos seus apóstolos, dirigindo suas palavras aos seus discípulos presentes, aos quais ordenou tomar e comer.
VIII. O santo sacramento da ceia não é alimento para o corpo como para as almas (porque nós não imaginamos nada de carnal, como declaramos no artigo quinto) recebendo-o por fé, a qual não é carnal.
IX. Cremos que o batismo é sacramento de penitência, e como uma entrada na igreja de Deus, para sermos incorporados em Jesus Cristo. Representa-nos a remissão de nossos pecados passados e futuros, a qual é adquirida plenamente, só pela morte de nosso Senhor Jesus.
De mais, a mortificação de nossa carne aí nos é representada, e a lavagem, representada pela água lançada sobre a criança, é sinal e selo do sangue de nosso Senhor Jesus, que é a verdadeira purificação de nossas almas. A sua instituição nos é ensinada na Palavra de Deus, a qual os santos apóstolos observaram, usando de água em nome do Pai, do Filho e do Santo Espírito. Quanto aos exorcismos, abjurações de Satanás, crisma, saliva e sal, nós os registramos como tradições dos homens, contentando-nos só com a forma e instituição deixada por nosso Senhor Jesus.
X. Quanto ao livre arbítrio, cremos que, se o primeiro homem, criado à imagem de Deus, teve liberdade e vontade, tanto para bem como para mal, só ele conheceu o que era livre arbítrio, estando em sua integridade. Ora, ele nem apenas guardou este dom de Deus, assim como dele foi privado por seu pecado, e todos os que descendem dele, de sorte que nenhum da semente de Adão tem uma centelha do bem.
Por esta causa, diz São Paulo, o homem natural não entende as coisas que são de Deus. E Oséias clama aos filho de Israel: “Tua perdição é de ti, ó Israel.” Ora isto entendemos do homem que não é regenerado pelo Santo Espírito.
Quanto ao homem cristão, batizado no sangue de Jesus Cristo, o qual caminha em novidade de vida, nosso Senhor Jesus Cristo restitui nele o livre arbítrio, e reforma a vontade para todas as boas obras, não todavia em perfeição, porque a execução de boa vontade não está em seu poder, mas vem de Deus, como amplamente este santo apóstolo declara, no sétimo capítulo aos Romanos, dizendo: “Tenho o querer, mas em mim não acho o realizar.”
O homem predestinado para a vida eterna, embora peque por fragilidade humana, todavia não pode cair em impenitência.
A este propósito, S. João diz que ele não peca, porque a eleição permanece nele.
XI. Cremos que pertence só à Palavra de Deus perdoar os pecados, da qual, como diz santo Ambrósio, o homem é apenas o ministro; portanto, se ele condena ou absolve, não é ele, mas a Palavra de Deus que ele anuncia.
Santo Agostinho, neste lugar diz que não é pelo mérito dos homens que os pecados são perdoados, mas pela virtude do Santo Espírito. Porque o Senhor dissera aos seus apóstolos: “recebei o Santo Espírito;” depois acrescenta: “Se perdoardes a alguém os seus pecados,” etc.
Cipriano diz que o servo não pode perdoar a ofensa contra o Senhor.
XII. Quanto à imposição das mãos, essa serviu em seu tempo, e não há necessidade de conservá-la agora, porque pela imposição das mãos não se pode dar o Santo Espírito, porquanto isto só a Deus pertence.
No tocante à ordem eclesiástica, cremos no que S. Paulo dela escreveu na primeira epístola a Timóteo, e em outros lugares.
XIII. A separação entre o homem e a mulher legitimamente unidos por casamento não se pode fazer senão por causa de adultério, como nosso Senhor ensina (Mateus 19:5). E não somente se pode fazer a separação por essa causa, mas também, bem examinada a causa perante o magistrado, a parte não culpada, se não podendo conter-se, deve casar-se, como São Ambrósio diz sobre o capítulo sete da Primeira Epístola aos Coríntios. O magistrado, todavia, deve nisso proceder com madureza de conselho.
XIV. São Paulo, ensinando que o bispo deve ser marido de uma só mulher, não diz que não lhe seja lícito tornar a casar, mas o santo apóstolo condena a bigamia a que os homens daqueles tempos eram muito afeitos; todavia, nisso deixamos o julgamento aos mais versados nas Santas Escrituras, não se fundando a nossa fé sobre esse ponto.
XV. Não é lícito votar a Deus, senão o que ele aprova. Ora, é assim que os votos monásticos só tendem à corrupção do verdadeiro serviço de Deus. É também grande temeridade e presunção do homem fazer votos além da medida de sua vocação, visto que a santa Escritura nos ensina que a continência é um dom especial (Mateus 15 e 1 Coríntios 7). Portanto, segue-se que os que se impõem esta necessidade, renunciando ao matrimônio toda a sua vida, não podem ser desculpados de extrema temeridade e confiança excessiva e insolente em si mesmos.
E por este meio tentam a Deus, visto que o dom da continência é em alguns apenas temporal, e o que o teve por algum tempo não o terá pelo resto da vida. Por isso, pois, os monges, padres e outros tais que se obrigam e prometem viver em castidade, tentam contra Deus, por isso que não está neles o cumprir o que prometem. São Cipriano, no capítulo onze, diz assim: “Se as virgens se dedicam de boa vontade a Cristo, perseverem em castidade sem defeito; sendo assim fortes e constantes, esperem o galardão preparado para a sua virgindade; se não querem ou não podem perseverar nos votos, é melhor que se casem do que serem precipitadas no fogo da lascívia por seus prazeres e delícias.” Quanto à passagem do apóstolo S. Paulo, é verdade que as viúvas tomadas para servir à igreja, se submetiam a não mais casar, enquanto estivessem sujeitas ao dito cargo, não que por isso se lhes reputasse ou atribuísse alguma santidade, mas porque não podiam bem desempenhar os deveres, sendo casadas; e, querendo casar, renunciassem à vocação para a qual Deus as tinha chamado, contudo que cumprissem as promessas feitas na igreja, sem violar a promessa feita no batismo, na qual está contido este ponto: “Que cada um deve servir a Deus na vocação em que foi chamado.” As viúvas, pois, não faziam voto de continência, senão porque o casamento não convinha ao ofício para que se apresentavam, e não tinha outra consideração que cumpri-lo. Não eram tão constrangidas que não lhes fosse antes permitido casar que se abrasar e cair em alguma infâmia ou desonestidade.
Mas, para evitar tal inconveniência, o apóstolo São Paulo, no capítulo citado, proíbe que sejam recebidas para fazer tais votos sem que tenham a idade de sessenta anos, que é uma idade normalmente fora da incontinência. Acrescenta que os eleitos só devem ter sido casados uma vez, a fim de que por essa forma, tenham já uma aprovação de continência.
XVI. Cremos que Jesus Cristo é o nosso único Mediador, intercessor e advogado, pelo qual temos acesso ao Pai, e que, justificados no seu sangue, seremos livres da morte, e por ele já reconciliados teremos plena vitória contra a morte.
Quanto aos santos mortos, dizemos que desejam a nossa salvação e o cumprimento do Reino de Deus, e que o número dos eleitos se complete; todavia, não nos devemos dirigir a eles como intercessores para obterem alguma coisa, porque desobedeceríamos o mandamento de Deus. Quanto a nós, ainda vivos, enquanto estamos unidos como membros de um corpo, devemos orar uns pelos outros, como nos ensinam muitas passagens das Santas Escrituras.
XVII. Quanto aos mortos, São Paulo, na Primeira Epístola aos Tessalonicenses, no capítulo quatro, nos proíbe entristecer-nos por eles, porque isto convém aos pagãos, que não têm esperança alguma de ressuscitar. O apóstolo não manda e nem ensina orar por eles, o que não teria esquecido se fosse conveniente. S. Agostinho, sobre o Salmo 48, diz que os espíritos dos mortos recebem conforme o que tiverem feito durante a vida; que se nada fizeram, estando vivos, nada recebem, estando mortos.
Esta é a resposta que damos aos artigos por vós enviados, segundo a medida e porção da fé, que Deus nos deu, suplicando que lhe praza fazer que em nós não seja morta, antes produza frutos dignos de seus filhos, e assim, fazendo-nos crescer e perseverar nela, lhe rendamos graças e louvores para sempre. Assim seja.
Jean du Bourdel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon, André la Fon.

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* Extraído de Paulo R. B. Anglada, Sola Scriptura: A Doutrina Reformada das Escrituras (São Paulo: Editora Os Puritanos, 1998), 190-197.
[1] O relato da história dos mártires huguenotes no Brasil, bem como a Confissão de Fé que escreveram, encontra-se no livro A Tragédia da Guanabara: História dos Protomartyres do Christianismo no Brasil, traduzido por Domingos Ribeiro; de um capítulo intitulado On the Church of the Believers in the Country of Brazil, part of Austral America: Its Affliction and Dispersion, do livro de Jean Crespin: l’ Histoire des Martyres, originalmente publicado em 1564. Este livro, por sua vez, é uma tradução de um pequeno livro: Histoire des choses mémorables survenues en le terre de Brésil, partie de l’ Amérique australe, sous le governement de N. de Villegaignon, depuis l’ an 1558, publicado em 1561, cuja autoria é atribuída a Jean Lery, um dos huguenotes que vieram para o Brasil em 1557, o qual também publicou outro livro sobre sua viagem ao Brasil: Histoire d’an voyage fait en la terre du Brésil.
[2] O texto foi transcrito de Jean Crespin, A Tragédia da Guanabara; História dos Protomartyres do Christianismo no Brasil, 65-71. O português antigo de Domingos Ribeiro (o tradutor) foi atualizado.
[3] Uma referência ao Credo Apostólico.
FONTE: http://www.monergismo.com/textos/credos/confissao_guanabara.htm

10 MARÇO - PRIMEIRO CULTO PROTESTANTE DAS AMÉRICAS

 

O PRIMEIRO CULTO PROTESTANTE NO BRASIL

Alderi Souza de Matos
Cabe aos presbiterianos a honra de terem realizado o primeiro culto evangélico na história do Brasil e das Américas. Esse evento singular ocorreu há 462 anos em uma pequena colônia fundada pelos franceses na baía de Guanabara.
1. A França Antártica
Após o descobrimento do Brasil, Portugal demorou a interessar-se pela ocupação e a colonização dos novos domínios. Com isso, a colônia atraiu a atenção de outras nações européias, especialmente a França. Após a experiência mal-sucedida das capitanias hereditárias e as constantes incursões estrangeiras, Portugal resolveu tomar providências concretas. Em 1549 enviou o primeiro governador-geral do Brasil, Tomé de Souza, que se instalou em Salvador. Todavia, o controle da imensa costa era ainda muito limitado. Foi nesse contexto que o militar e aventureiro Nicolas Durand de Villegaignon teve a idéia de fundar uma colônia numa região bem conhecida dos franceses: a baía de Guanabara.
Villegaignon aproximou-se do vice-almirante Gaspard de Coligny, um dos principais conselheiros do reino, que nutria fortes simpatias pela Reforma. Com isso, conseguiu o apoio do rei Henrique II (1547-1559), que lhe forneceu dois navios aparelhados e recursos para a viagem. A expedição chegou à Guanabara no dia 10 de novembro de 1555, sendo bem recebida pelos índios tupinambás, acostumados à presença de franceses na região. O grupo instalou-se na pequena ilha de Serigipe, mais tarde denominada Villegaignon, onde foi construído o Forte Coligny.
2. A vinda dos reformados
Diante de várias dificuldades surgidas, Villegaignon escreveu à Igreja Reformada de Genebra solicitando o envio de pastores e colonos evangélicos que contribuíssem para a elevação do nível moral e espiritual da colônia. Coligny convidou para liderar o grupo um ex-vizinho seu, Filipe de Corguilleray, conhecido como senhor Du Pont. Por sua vez, João Calvino e seus colegas alegremente escolheram para acompanhar os colonos os pastores Pierre Richier (50 anos) e Guillaume Chartier (30 anos). Os seus objetivos específicos eram implantar a fé reformada entre os franceses e evangelizar os indígenas.
Os huguenotes que os acompanharam foram Pierre Bourdon, Matthieu Verneil, Jean du Bourdel, André Lafon, Nicolas Denis, Jean Gardien, Martin David, Nicolas Raviquet, Nicolas Carmeau, Jacques Rousseau e o sapateiro Jean de Léry, o cronista da viagem, que escreveria a obra Viagem à Terra do Brasil (publicada em 1578). Eram ao todo 14 pessoas. O grupo deixou Genebra em 16 de setembro de 1556. Após visitarem o almirante Coligny, seguiram para Paris, onde outros se uniram à comitiva. Alguns pensam que entre eles estava Jacques Le Balleur. No dia 19 de novembro embarcaram para o Brasil no porto de Honfleur, na Normandia.
A frota de três navios, comandada por Bois Le Conte, sobrinho de Villegaignon, levava cerca de 290 pessoas, inclusive algumas mulheres. Como de costume, a viagem foi muito penosa. A certa altura, diante da situação em que se achavam, os reformados recitaram o Salmo 107 (ver os vv. 23-30). No dia 7 de março de 1557, os viajantes finalmente entraram no “braço de mar” chamado Guanabara pelos selvagens e Rio de Janeiro pelos portugueses.
3. O primeiro culto
O desembarque no forte Coligny deu-se no dia 10 de março, uma quarta-feira. O vice-almirante recebeu o grupo afetuosamente e demonstrou alegria porque vinham estabelecer uma igreja reformada. Logo em seguida, reunidos todos em uma pequena sala no centro da ilha, foi realizado um culto de ação de graças, o primeiro culto protestante ocorrido nas Américas, o Novo Mundo.
O ministro Richier orou invocando a Deus. Em seguida foi cantado em uníssono, segundo o costume de Genebra, o Salmo 5: “Dá ouvidos, Senhor, às minhas palavras”. Esse hino constava do Saltério Huguenote, com metrificação de Clement Marot e melodia de Louis Bourgeois, e até hoje se mantém nos hinários franceses. Bourgeois foi diretor de música da Igreja de Genebra de 1545 a 1557 e um dos grandes mestres da música francesa no século 16. A versão mais conhecida em português (“À minha voz, ó Deus, atende”) tem música de Claude Goudimel (†1572) e metrificação do Rev. Manoel da Silveira Porto Filho.
Em seguida, o pastor Richier pregou um sermão com base no Salmo 27:4: “Uma coisa peço ao Senhor e a buscarei: que eu possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor e meditar no seu templo”. Após o culto, os huguenotes tiveram sua primeira refeição brasileira: farinha de mandioca, peixe moqueado e raízes assadas no borralho. Dormiram em redes, à maneira indígena. A Santa Ceia segundo o rito reformado foi celebrada pela primeira vez no domingo 21 de março de 1557.
4. Eventos posteriores
Infelizmente, o vice-almirante acabou entrando em conflito com os huguenotes sobre questões doutrinárias e os expulsou da colônia. Em 4 de janeiro de 1558, eles partiram para a França a bordo de um velho navioO comandante avisou que a viagem iria ser difícil e não haveria alimento para todos. Diante disso, cinco huguenotes se ofereceram para voltar à terra. Inicialmente Villegaignon os recebeu de modo cordial, mas logo os acusou de serem traidores e espiões. Formulou um questionário sobre pontos doutrinários e lhes deu doze horas para responderem por escrito. O resultado foi a bela Confissão de Fé da Guanabara ou Confissão Fluminense.
O almirante declarou heréticos vários artigos e decidiu pela morte dos reformados. No dia 9 de fevereiro de 1558, Jean du Bourdel, Matthieu Verneil e Pierre Bourdon foram estrangulados e lançados ao mar. André Lafon foi poupado devido às suas vacilações religiosas e ao fato de ser o único alfaiate da colônia. Jacques Le Balleur fugiu e foi para São Vicente. Levado preso para a Bahia, ficou encarcerado por oito anos, sendo então conduzido ao Rio de Janeiro, onde foi enforcado. Ele e seus companheiros ficaram conhecidos como os mártires calvinistas do Brasil.
Essa efêmera presença calvinista no início da história do Brasil não produziu efeitos permanentes. Não foi possível aos reformados alcançar seus dois intentos principais: criar uma igreja reformada e evangelizar os nativos. Todavia, esse episódio é considerado um marco significativo na história das missões cristãs, pois foi a primeira vez que os protestantes buscaram anunciar a sua fé a um povo pagão. O fruto mais duradouro do singelo empreendimento foi a bela confissão de fé selada com sangue.

Fonte:  https://cpaj.mackenzie.br/historiadaigreja/pagina.php?id=287

sexta-feira, 8 de março de 2019

terça-feira, 5 de março de 2019

COMO JESUS ENSINA A LUTAR CONTRA A DEPRESSÃO

Como Jesus nos Ensina a Lutar contra a Depressão?
Afirmar que um personagem bíblico experimentou depressão seria anacronismo, pois o conceito contemporâneo de depressão não pertencia à época das Escrituras. Nesse sentido, é seguro afirmar que a Bíblia não fala sobre esse assunto. O que as Escrituras fazem, porém, é descrever a tristeza e angústia de alma humana por meio de vários outros termos, ou seja: abatimento (Sl 42.5, 6 e 11, 44.25 e 57.6), aflição (Sl 38.8 e 88.15), angústia (Is 61.3 e Jo 12.27), tristeza profunda (Mt 26.38) e muitas outras. Consequentemente, é possível extrair lições e princípios inspirados para a luta contra a depressão a partir da observação de como os personagens bíblicos lidaram com suas persistentes sensações de tristeza e perda de interesse pela vida, principalmente para os pastores que lutam contra esse mal.
Para um pastor, o combate à depressão pode ser uma das experiências mais duras da vida. Em certo sentido, o ministro foi chamado para ser um “colaborador da alegria” dos membros da igreja de Cristo (cf. 2Co 1.24 e Fp 1.25). Como ele pode fazer isso se sua tristeza é persistente? A situação fica mais séria ainda quando se observa que somente quando feito com alegria é que o trabalho dos líderes é proveitoso ao rebanho (cf. Hb 13.17). Todavia, o episódio de Jesus no Getsêmani é extremamente benéfico a esse respeito, pois descreve Jesus sofrendo angústia e abatimento de alma. O pastor que luta contra depressão pode extrair dali princípios seguros para sustentá-lo e ajudá-lo a dar o próximo passo, seguindo o exemplo do Redentor. Dessa forma, qualquer líder aflito pela dor da alma angustiada poderá confessar que, ainda que abatido, nunca será derrotado.
Mateus 26.37-38 afirma que, quando no Getsêmani, o Senhor foi “tomado de tristeza e angústia” e disse aos seus discípulos: “a minha alma está profundamente triste até a morte” (Mt 26.37-38). As atitudes de Jesus naqueles momentos de aflição apontam passos importantes na luta que qualquer cristão contemporâneo trava contra a depressão. Em um artigo devocional sobre esse texto, John Piper esboça, mas não desenvolve, alguns pontos dignos de serem observados na ação do Senhor Jesus.[1] Tomando as sugestões de Piper, procurei desenvolver melhor o assunto e passo a ressaltar cinco princípios encontrados diretamente no texto de Mateus e um sexto retirado de Hebreus.
Com relação ao texto de Mateus, devemos observar alguns detalhes importantes nesses dois versos. Cada um desse pode ser reafirmado pelos outros evangelistas.
1.Em sua angústia, Jesus escolheu alguns amigos próximos para estarem com ele. O texto bíblico afirma que Jesus, “levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a sentir-se tomado de tristeza e de angústia” (Mt 26.37). A iniciativa de Jesus em buscar a companhia dos seus amigos íntimos no momento em que enfrentaria sua tristeza de alma é claramente declarada por essas palavras. Ademais, é importante ressaltar que os amigos de Jesus eram crentes, seus discípulos, pois somente o cristão consegue interpretar o sofrimento humano à luz da cruz.
A dor e a enfermidade geralmente isolam o aflito de outras pessoas. Quando estamos enfermos não queremos estar perto de ninguém e muitos também não querem estar próximos a nós. Talvez por essa razão, em sua aflição, o profeta Elias tenha reclamado: “só eu fiquei” (1Re 19.10 e 14). No caso de Jó, a grande maioria dos seus parentes e amigos o desamparou em meio ao seu sofrimento (Jó 19.14). O salmista, em sua aflição, também se queixa: “Olha à minha direita e vê, pois não há quem me reconheça, nenhum lugar de refúgio, ninguém que por mim se interesse” (Sl 142.4). Em certo sentido, o leito do sofrimento se transforma em leito da solidão.
Em se tratando de sofrimento tão complexo como a depressão da alma, porém, a comunhão fraternal é instrumento divino para o coração ferido. Quando nossa perspectiva está turva e obscura, necessitamos ser guiados pelos olhos de quem nos ama e está enxergando melhor. Quando a única coisa que nosso coração nos diz é negativo e desesperador, carecemos daqueles que nos falam palavras de esperança. Amizades não são apenas preciosas (cf. Pv 17.17), mas necessárias nesses instantes. Jesus, mesmo sendo o Filho de Deus, não abriu mão desse benefício em seu momento de angústia.

2.Em sua dor, Jesus abriu o coração para os s amigos. Segundo o texto bíblico, logo após se sentir entristecido e angustiado, Jesus se voltou aos discípulos e disse: “A minha alma está profundamente triste até a morte” (Mt 26.38). Em outras palavras, ele não cultivou sua dor em segredo, mas abriu o seu coração acerca do seu estado de alma naquele exato momento.
Uma das dificuldades em ajudar aqueles que lutam contra a depressão ou abatimento é o fato de que eles dificilmente compartilham sua dor com outras pessoas ao redor. Em muitas ocasiões, é comum encontrar familiares de indivíduos angustiados que atestam ter percebido algo errado, mas que, ao perguntar o que estava acontecendo, o silêncio era a resposta mais comum. Por outro lado, algumas pessoas aflitas explicam que nunca compartilharam por não saber se poderiam confiar plenamente nas pessoas ao redor. Outros ainda afirmam que ninguém expressou verdadeiro interesse a ponto de justificar o difícil exercício de abrir o coração com outros.
Todavia, se considerarmos com quem Jesus se abriu, nenhum desses argumentos prevalece. Ele compartilhou sua angústia com discípulos que não demonstraram qualquer interesse pelo que estava acontecendo. Ao final, eles até dormiriam nos momentos de oração. Além do mais, um deles até iria negá-lo publicamente. Nada disso, porém, foi razão suficiente para impedir que o Redentor expressasse sua dor e angústia de alma com eles naquele momento.
Outro fator importante a ser notado é que Jesus não parece ter tido qualquer receio do que os discípulos pensariam a respeito dele. Sendo ele o Mestre e Senhor, poderia ter se preocupado com sua reputação. Ao invés disso, porém, apenas revelou sua dor aos seus discípulos. Há muitas pessoas sofrendo a dor do abatimento e que nada compartilham porque desejam “preservar sua imagem”. No caso do pastor, é comum que ele tente proteger sua imagem “pelo bem da igreja”. No entanto, se o Senhor da igreja não hesitou em compartilhar sua dor, tampouco seus “pastores designados” deveriam se preocupar com isso. Quando isso ocorre, além de se privarem de algo benéfico, esses irmãos acabam cultivando o elemento maléfico do orgulho. Ainda assim, é preciso notar que Jesus se abriu com amigos e não com qualquer um.

3. Em seu abatimento, Jesus pediu a intercessão e participação dos amigos em sua luta. Diferente do que algumas pessoas costumam fazer em momentos de tristeza, Jesus não quis apenas “falar sobre os seus problemas”. Ele também não quis apenas “colocar para fora o que sentia no peito”, nem “desabafar”. Jesus compartilhou sua dor e pediu aos discípulos que participassem com ele na luta em oração por causa de sua tristeza até à morte. Ele disse: “ficai aqui e vigiai comigo” (Mt 26.38).
A lição a ser aprendida a partir desse verso é que o compartilhamento da dor do aflito deve ser proposital. Dessa forma, ele tanto permite que outras pessoas ajudem, como também direciona quanto à natureza mais importante da ajuda a ser recebida nessas ocasiões. Os discípulos de Cristo foram convidados por ele a se aliarem a uma luta em prol de sua alma. Ao pedir por tal intercessão, a pessoa sofredora convida seus irmãos a participarem de um aspecto importantíssimo da vida cristã: a união do Corpo de Cristo em meio às tribulações da vida (cf. Rm 12.15 e 1Co 12.26).
Segundo Jesus, a forma correta de se travar a luta pela alegria da alma seria pela oração. Mais uma vez o leitor bíblico é lembrado da importância do cuidado e zelo espiritual por alguém que está sofrendo. Enquanto no geral raciocinamos em termos e categorias físicas e materiais, Jesus nos ensina a importância da luta pelo restabelecimento da alegria da alma através da intercessão.
4. Em sua aflição, Jesus derramou o coração diante do Pai em oração. Jesus não apenas pediu oração por si mesmo, mas ele mesmo derramou o seu coração diante do Pai dizendo: “Meu Pai, se possível, passa de mim este cálice!” (Mt 26.39). O clamor de Jesus, além de real, foi também pedagógico. Nele, o Senhor indica que, em última instância, nosso socorro vem somente do Senhor e, por isso, nossas petições devem ser direcionadas a ele. Deus possui a última palavra para todas as nossas dores e aflições. Como afirma o salmista: “Ele é quem perdoa todas as tuas iniquidades; quem sara todas as tuas enfermidades; quem da cova redime a tua vida e te coroa de graça e misericórdia” (Sl 103.3-4).
Também em sua oração, Jesus, como filho, se dirige a Deus chamando-o de “Pai” (o texto de Marcos usa o aramaico Aba, papaizinho, expressão de intimidade, cf. Mc 14.36). Isso ensina que, a despeito da angústia e dor que ele sentia, ainda mantinha a clara perspectiva da bondade paternal de Deus em perspectiva. A importância de se atentar para esse princípio é que, como indica outro salmista, nossa aflição muda nossa perspectiva sobre Deus (cf. Sl 77.10). Comumente, nos momentos de dor, confiamos mais em nossos sentidos e emoções do que nos fatos e afirmações da Palavra. Mas o exemplo de Jesus em oração deixa claro que Deus é bom e que, como filhos amados, podemos derramar o coração diante dele.
Por último, a atitude de Jesus deixa claro que não há qualquer assunto que não possamos trazer à presença do gracioso Pai que se interessa pela dor do nosso coração. Se observado cuidadosamente, o leitor notará que Jesus apresentou seu desejo ao Pai de que outra solução fosse encontrada para aquele momento que não o cálice da dor. Ainda assim, ele o fez em submissão, pois apenas disse “se possível”. Esse fato contrasta com o que geralmente ocorre quando lutamos contra a depressão, já que nossos sentimentos parecem “pregar para nós” que nossos problemas não são importantes para Deus ou que ele se faz indiferente para com nossa dor. Mas o exemplo de Cristo confirma a verdade de que podemos nos aproximar “com sincero coração, em plena certeza de fé,” do Pai celestial (cf. Hb 10.22).
5. Em seu sofrimento, Jesus descansou a alma na soberania e sabedoria de Deus. Após apresentar ao Pai o seu desejo, o Senhor conclui sua oração: “Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres” (Mt 26.39). O que o leitor bíblico testemunha nas páginas seguintes é que Jesus continua obediente “até a morte e morte de cruz” (cf. Fp 2.8). Com exceção de um texto em Lucas que não aparece nos melhores e mais antigos manuscritos gregos existentes (cf. Lc 22.42-43), não há nenhuma outra indicação de que ele tenha sido miraculosamente confortado. Para piorar, por duas vezes Jesus se virou para os discípulos e os encontrou dormindo. No entanto, suas palavras ao Pai indicam que sua alma foi descansada na soberania e sabedoria do Altíssimo.
Certa vez li (embora nem me lembre mais onde) uma ilustração interessante sobre Charles H. Spurgeon, que lutou por anos contra sentimentos depressivos. Quando um membro da igreja, querendo consolá-lo, o encontrou e disse: “Pastor Spurgeon, que lamentável que Satanás o tenha afligido com tantas dores e aflições!”. Ao que Spurgeon respondeu: “Caro irmão, seria um tormento, uma verdadeira angústia insuportável, se eu acreditasse que qualquer um dos meus males viesse de Satanás sem a permissão do Soberano Deus!”. Naquele momento, o príncipe dos pregadores deixou claro que ele pregava para si mesmo a mensagem confortadora da soberania e sabedoria do Deus que por nós tudo executa!
Mas Deus não é apenas Soberano, ele também é Sábio! Isso significa que tudo o que ele realiza possui um propósito, sendo que o objetivo maior de Deus é conformar seus filhos à imagem de Cristo Jesus (cf. Rm 8.29). Essa conformação não ocorre somente nos privilégios das bênçãos, mas também nas bênçãos do sofrimento. O que é importante lembrar é que assim como o Filho não foi desamparado, nenhum dos filhinhos será. Essas verdades deveriam nos ajudar a descansar em Deus.
6. Em sua perplexidade, Jesus fixou os olhos no futuro glorioso reservado pelo Pai. Finalmente, outro verso das Escrituras que ensina como Jesus lidou com sua aflição e angústia de alma é o de Hebreus 12.2, que diz que: “Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus”. Isso mesmo, Jesus utilizou sua expectativa da glória que lhe seria revelada para suportar os sofrimentos da cruz.
Dessa maneira, o Senhor Jesus não focalizou apenas nas circunstâncias imediatas que o cercavam, sua mente não se ocupou em pensar apenas nos sofrimentos que experimentava. Ele ocupou sua meditação com as glórias que lhe seriam concedidas pela graça de Deus ao se assentar à destra do Pai. Certamente por essa razão, o escritor de Hebreus exorta a cada um dos seus leitores a “olhar firmemente” para Jesus, pois, pelo seu exemplo, também se pode aprender a lidar com os sofrimentos terrenos. Aqueles irmãos do passado certamente enfrentavam lutas desconhecidas a muitos de nós hoje, mas, somente considerando atentamente o modelo de Jesus, não desmaiaremos em nossas almas (cf. Hb 12.3).
De fato, a depressão é uma dor tão complexa que não se encontra tratamento ou medicina fácil para ela. Muitas pessoas, talvez por não compreenderem ou por desejarem uma “cura rápida”, acabam apresentando inúmeras “receitas” ou “lista do que deve ser feito ou evitado”. No entanto, nada melhor do que o modelo de como Jesus lutou contra o abatimento de sua alma para ajudar seus discípulos que no presente lutam contra a depressão. Até nessa esfera ele nos deixou exemplo para seguirmos os seus passos (cf. 1Pe 2.21). Todavia, devemos lembrar que Cristo não é apenas nosso modelo, mas nosso Redentor, aquele que sofreu e triunfou para que pudéssemos ter livre acesso ao Pai por meio dele. Em nossa angústia, podemos recorrer a ele, pois, naquilo que ele mesmo sofreu, é poderoso para socorrer os que são tentados (cf. Hb 2.18). Que o Senhor nos ajude na caminhada com Jesus em um mundo caído, mas aguardando o retorno do Supremo Pastor.
- Valdeci Santos

[1] PIPER, John. Six ways Jesus fought depression. https://www.desiringgod.org/articles/six-ways-jesus-fought-depression. Acesso em: 04.02.2019

RESTAURAÇÃO




O apóstolo Pedro é um grande emblema do que significa o homem, com as suas virtudes e defeitos, com seus altos e baixos, com seus avanços e recuos. Pedro foi o grande líder dos apóstolos, tanto antes da sua queda, como depois da sua restauração. Este homem é símbolo da nossa natureza frágil, vulnerável, sujeita a fracassos; este homem era capaz, por exemplo, de fazer uma profissão de fé robusta, clara, segura, “tu és o Cristo, o filho do Deus vivo”, para em seguida tentar afastar Jesus da cruz e ser severamente repreendido pelo Senhor.